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Artigo analítico de fim de semana

POR cima da enxurrada, as eleições veem ai

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

A enxurrada de desmandos e malfeitos que se arrasta no caudal da política brasileira faz muita gente esquecer que as eleições veem aí, com importância de ser – de certa maneira – plebiscitárias. A chamada ‘classe política’, porém, está de olho no eleitorado, e o lulo-petismo, está mais preocupado do que as outras correntes partidárias.

Sente-se claramente que a hierarquia petista está inquieta, e com razão. Sendo o PT um partido formado na base do culto à personalidade de Lula, e tendo este a visão de que o grande salto do partido é a conquista da Prefeitura de São Paulo, cria uma situação de risco.

O pior de tudo é que Lula, sendo o centro das decisões, impôs a candidatura alienígena de Fernando Haddad no campo que considera propício para o duelo político básico entre o seu partido e as oposições.

A intelectualidade uspeana lulo-petista teme o embate. E com razão, pois Haddad não somente tem uma presença raquíticaem São Paulo, como apresenta a insegurança dos visíveis erros cometidos no Ministério da Educação.

No âmbito interno do partido a fragmentação é visível, e, podem crer, a militância histórica – que não correu para ocupar cargos no governo federal – está perdendo a fé no ‘Chefe’. Isto é tão real que os lulo-petistas correm a lançar (nos porões) a campanha ‘Volta Lula!’, tentando reanimar os descontentes.

A palavra-de-ordem ‘Volta Lula!’ tem, porém, um senão: cria nova divisão entre os que estão chegados à Dilma e esperam que a popularidade dela influencie suas eleições ou reeleições.

Pelo resto do Brasil – deixado de lado na estratégia do ‘Chefe’ – o pragmatismo das bases leva a alianças estapafúrdias, inclusive com o arquiinimigo dele, o DEM…  Na verdade, sem a militância que dantes ocupava as ruas – hoje quase toda aparelhada nos sistema governamental – as direções estaduais estão entregues a alguns poucos.

E fora de Brasília, e de São Paulo, posto como epicentro da disputa eleitoral, o PT se aburguesou e enrolou as bandeiras reivindicatórias dos movimentos populares. Cede lugar às pequenas, mas aguerridas militâncias do PSTU e do PSOL. Até o nanico PCB já aparece nos protestos de rua…

Enfim, vê-se o lulo-petismo desarvorado. Dilma enfrenta crises parlamentares com os aliados e a própria bancada do PT. Considera os embates no Congresso “questiúnculas”, menosprezando a reação contra seu estilo de governar e contra seus interlocutores.

Também perdeu em qualidade a representação congressual. As caras novas que renovaram a Câmara e o Senado são muito fracas, tanto do ponto de vista intelectual como da formação ideológica. Assim, o que se vê entre os congressistas é uma carreira desabalada para ajudar candidatos a prefeito e a vereador dos seus mapas eleitorais.

Ninguém se lembra, no Executivo e no Legislativo, em discutir os rumos do País; nem parar para analisar o crescimento da corrupção no aparelho de estado. S’esquecem que nenhum deles, ministros, senadores, deputados e secretários estão livres de uma investigação. E cair de podre.

Os do poder não se preocupam, também, em ver a situação econômica, mesmo alardeado o pífio crescimento de 2,7% no PIB, que deixa o Brasil atrás da Argentina, com 8,8%, e do Peru, Chile, Colômbia e Uruguai, que cresceram a taxas duas vezes maiores que a brasileira.

Finalmente, os menos informados dos brasileiros estão descobrindo as mentiras cabeludas de Lula e sua trupe. A mais sentida delas foi a impostura da auto-suficiência do petróleo como ufanismo eleitoral que deu certo…

O que se vê é a Petrobras importando mais petróleo e pretendendo reajustar os preços dos combustíveis. Além disso, procurando esconder a projeção de que a importação da gasolina vai quadruplicar em relação ao ano passado.

Diante disso, são estes os grandes eleitores deste ano: A corrupção, a luta interna do PT, o personalismo de Lula, as vacilações de Dilma, a fraqueza da oposição, e a carestia de vida representada no aumento dos combustíveis…

Miranda Sá

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