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Chávez: Alucinada e permanente conspiração

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Tal e qual o antiqüíssimo método de mumificação para preservar corpos de pessoas e animais, também vem de muito longe no tempo o uso de drogas. As duas coisas estão em voga…

Heródoto, o viajante grego que nos legou costumes do antigo Egito, descreveu com detalhes o processo de embalsamamento, que se iniciava com a extração do cérebro do morto pelas narinas. Na atualidade, o mumificado golpista e depois ditador da Venezuela, Hugo Rafael Chávez Frias, mesmo sem cérebro, deixou um rastro de ações conspiratórias que o acompanharam sempre, até mesmo nas desvairadas explicações para a sua enfermidade e óbito: São tramas que vão de um enxerto de câncer pela CIA até o envenenamento propagado pelo ‘cocalero’ Evo Morales.

A Múmia Bolivariana e os drogados que o acompanharam na vida e na morte, traçam a caricatura de uma História, mais para comédia do que para tragédia; é um capítulo que segue o rabo de cometas faraônicos egípcios e europeus, glorificando tiranos personalistas e cruéis.

Aliás, na América Latina já se praticou essa deformação. A Argentina teve Juan Perón e a Santa Evita… Não sei como a viúva ‘capilla’ Cristina K não embalsamou Néstor, que conquistou os argentinos a ponto de elegê-la presidente.

Voltando ao finado líder bolivariano, toda a sua trajetória política é conspiratória. Ainda no quartel formou um corpo de oficiais para tramar contra o governo constituído, tentou um golpe de mão que gorou e levou-o à prisão.  Solto e eleito presidente, urdiu para controlar o PCV, Partido Comunista Venezuelano, tomou-o e aproveitou a organização fundindo-a com outras forças sociais e políticas. Assim nasceu o Partido Socialista Unido da Venezuela, PSUV.

Cooptando sindicatos e organizações do movimento social, o PSUV tornou-se praticamente o único partido atuante da Venezuela, e através dele Chávez tramou o expansionismo ‘bolivariano’ nos países da América Central e do Caribe com os petrodólares da PDVSA – Petróleos de Venezuela

No Altiplano Andino, aliou-se às FARC contra o governo colombiano de Álvaro Uribe, e incursões pelo Cone Sul foram marcadas nos desafios ao governo legal do Chile e no financiamento da campanha eleitoral de Cristina K na Argentina.

O pior de toda essa rede de intrigas foi o caso do Paraguai, em que o Chávez ‘fez o diabo’, para uma entrada insólita da Venezuela no MERCOSUL apoiada pelo lulo-petismo brasileiro. Como não conseguiu comprar o Senado Paraguaio, aproveitou-se do impeachment de Fernando Lugo para conquistar uma cabeça de ponte.

Interveio descaradamente no caso Lugo, com maquinações que partiram do PSUV, com um manifesto conclamando “movimentos e partidos progressistas latino-americanos’ para uma ação contra as instituições paraguaias e também uma intervenção direta do embaixador venezuelano.

Para sua decepção, não conseguiu dobrar o governo e o povo paraguaios, apesar de ter garantido o apoio da Argentina e do Brasil, e mais timidamente, do Uruguai. O digno orgulho guarani manteve a independência do País. Entretanto, a porta do MERCOSUL foi arrombada, e a Venezuela sem base geopolítica, veio para o Cone Sul como parceiro dos mercosulistas que expulsaram o Paraguai.

Não sei se por azar ou reflexo da péssima situação da economia venezuelana (e da ‘bolivariana’ argentina), só assistimos fracassos do MERCOSUL nos acordos bilaterais e inter-regionais de livre comércio. Isto repercute no Brasil, que fica patinando e assistindo o crescimento da China e da Índia.

Há que se acrescentar no fecho de ouro desse enredo, que em Cuba, (morto?) a Múmia de Chávez foi usada numa sórdida conspiração para um ‘golpe legal’ legitimando Maduro como presidente efetivo da Venezuela. É assim que analiso a alucinada e permanente conspiração do chavismo.

Miranda Sá

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