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O amoralismo político não pode triunfar

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Ainda é citada no campo político – e quase sempre combatida – a sentença dolosa que reza “os fins justificam os meios”. Extremistas políticos e religiosos se acusam mutuamente de serem os criadores do aforismo; Trotsky diz que foram os Jesuítas e Truman, quando presidente dos EUA, afirmou ser usado pelos comunistas.

Trotsky perdeu a simpatia dos católicos e Truman, com a acusação direta ao governo da URSS, iniciou a guerra fria.

Este princípio amoral acaba de ser usado no Brasil pelo teórico social-fascista do lulo-petismo, José Dirceu, diante de um auditório de jovens militantes do partido em Brasília no 2º Congresso da Juventude do PT.

Discursando, o deputado cassado e réu como chefe da quadrilha do “mensalão” no Supremo Tribunal Federal, disse com todas as letras que as denúncias contra a roubalheira no governo não passam de uma “luta moralista contra a corrupção”. O que quer dizer: “o moralismo” atrapalha a prática corrupta que já derrubou cinco ministros e ainda tem dois sob suspeita.

Entre os intelectuais chapas-branca mais velhos o chavão assume um aspecto histórico, chamando a intolerância contra a depravação do patrimônio público de “udenismo”, relembrando as campanhas de Carlos Lacerda contra Getúlio Vargas e a campanha eleitoral de Jânio Quadros na sucessão de JK.

Esse “moralismo” ou “udenismo”, como queiram, é para mim um sofisma verbal para justificar os roubos escandalosos apontados pela reportagem investigativa da imprensa que protagoniza o que deveria ser feito pelos partidos de oposição.

As revelações feitas nos ministérios e empresas estatais mais do que envergonham, enojam os brasileiros honestos, pela maneira com que são utilizadas as ONGs, prefeituras ou os sindicatos, ao longo dos últimos anos.

José Dirceu defende os partidos que dão sustentabilidade ao esquema superior da corrupção, o governo hegemonizado pelo seu partido. Subestimando as denúncias, ajuda as máfias ministeriais para quem seria melhor que não ocorressem acusações sobre a distribuição de verbas públicas para as máquinas partidárias.

É claro que para os partidos que enfeudam os ministérios, e os seus prepostos, que sempre embolsam as rebarbas da distribuição criminosa das verbas, é preferível que a imprensa fique calada, englobando todos os meios de comunicação, inclusive as redes sociais na Internet.

Mas quando estouram as bombas – cada vez mais repetidas, porque as fraudes foram explicitadas na gestão Dilma – pouco importa que venham demissões, porque as agremiações reassumirão com outros testas-de-ferro, mantendo a arrecadação imoral das propinas, dos subornos e aliciamentos criminalizáveis.

A garantia da impunidade vem “de cima” em nome da governabilidade. É essa palavra mágica que garante as prerrogativas e os privilégios que permitem aos vigaristas se associarem às Ocips e ONGs que facilitam a divisão do butim pirateado do Erário.

Nesta fase condenável que o País atravessa, a cidadania está convocada a lutar contra este câncer que é a corrupção, cuja metástase já contamina claramente os três poderes da República. A falta de pudor decanta das altas esferas para os escalões inferiores e destes para o povão mal-educado por formação e índole.

São tão generalizados os malfeitos que não dá para saber qual foi o pior. Foi a adulteração nos Transportes, ou na Agricultura? O que mais chocou a opinião pública a bandalheira dos Esportes ou os convênios dolosos do Trabalho? Quem sabe se não seriam as maracutaias que desmoralizaram o Enem?

Dona Dilma, presidente da República pelo voto popular sabe disso. Tanto, que prepara um decreto que responsabiliza os agentes do primeiro escalão pelos desvios na repartição das verbas públicas. Se for para valer só o tempo dirá; mas uma coisa é certa, o amoralismo político não pode continuar.

Miranda Sá

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