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Defesa dos corruptos é atacar a imprensa

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Já lá se vão mais de sessenta anos que iniciei a minha vida de jornalista como uma espécie de estagiário (figura que não havia naquele tempo) na pequena redação do Diário Trabalhista, jornal hoje desaparecido. Colhia informações e revisava o texto do repórter de polícia, Rodrigues da Silva.

Uma das primeiras lições que aprendi foi discernir sobre a distinção óbvia de que polícia é polícia, bandido é bandido, e jornalista é jornalista. Estas três peças do noticiário policial não poderiam jamais ser embaralhadas.

Abalava profundamente a ética uma possível relação de policial com bandido e qualquer um dos dois com um repórter. Às vezes, até uma simples suspeita poderia custar o emprego na Secretaria de Segurança e cortar a carreira do jornalista.

A coisa mudou. Como comportamento de um mandatário se reflete sobre os seus comandados, um corrupto no governo degenera os princípios morais da administração pública, como um legume podre deteriora toda sacola que o guarda.

Há mil e tantos exemplos de prefeitos, governadores e até de presidente da República que se deterioraram, de juízes e policiais que enveredaram pelo caminho da bandidagem, e de jornalistas que abdicaram à vocação profissional pervertendo a sua função social.

Sem ser por corporativismo – juro – acho que o estamento social que menos se adulterou foi o jornalismo. São exemplares os bons profissionais que militam na imprensa atual, desde os grandes veículos de comunicação aos órgãos interioranos; na onda do rádio, na telinha da tevê e na Rede Social.

Quando se noticia uma invasão de propriedade, a explosão de uma caixa eletrônica ou o arrombamento de um cofre colhe-se a informação da Polícia. Se o suspeito vira réu, os dados saem da Justiça.

Tratando-se da atual e desenfreada roubalheira na administração pública, a cachoeira de denúncias impede que sejam escondidos os malfeitos e seus autores. E a imprensa esteve presente com excelentes trabalhos da reportagem investigativa, acompanhando desde o começo o arrastão dos subornos, peitas e propinas no Ministério dos Transportes.

O aperfeiçoamento dos métodos de corromper pelo lulo-petismo diferenciou a prática dos antigos desvios de verbas públicas, de extravio e apropriação dos bens patrimoniais do Estado. A política de deixar fazer e deixar passar os alcances, no Erário, por políticos profissionais sedimentou-se com o loteamento do Governo.

Os ministérios são capitanias – felizmente não hereditárias – controladas pelos partidos, que colhem os dízimos para engordar caixinhas eleitorais ou vão direto para os bolsos dos chefetes apelidados de “líderes”.

As descobertas atuais da patifaria politiqueira é a colheita de uma semeadura consciente, teimosa e perseverante de um projeto de poder. A queda uma a uma das pedras de dominó, Casa Civil, Transportes, Agricultura e Turismo, arrastando vários setores da administração pública assustam.

Essa patifaria é uma droga estupefaciente, tonteando a opinião pública, diante do comportamento inusitado da presidente Dilma. Ela vinha se mostrando séria, tratando com moderação as denúncias feitas ao seu governo. Chegou a apoiar publicamente o que seus marqueteiros batizaram de “faxina” e foi elogiada por isso.

Neste capítulo do Turismo atrás das grades, porém, parece que Dilma baqueou diante da pressão dos 301 picaretas que a cercam, reabilitando o modo lulo-petista de governar, isto é, aceitando a criminologia contida na espúria aliança partidária.

Com os pelegos do PT de um lado e as raposas prateadas do peemedebismo do outro, tendo seu criador como conselheiro, deleta os escândalos, absolve os protagonistas, blinda os parceiros mais chegados e acoberta os interesses ilegítimos disfarçados de governabilidade.

Acho que não dá mais tempo para uma recuperação de consciência patriótica. A presidência, além dos antigos e conhecidos picaretas, está cercada de pelegos personalistas e incompetentes, tipo Ideli Salvatti, Marta Suplicy, Mercadante, e Vacarezza, cuja defesa da corrupção é o ataque à imprensa.

Miranda Sá

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