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O DNA do DNIT e o vírus da corrupção

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Deixando de demitir o ministro Alfredo Nascimento após a descoberta de um esquema de corrupção na sua pasta, Dilma ressuscita o espírito condescendente do ex-presidente Lula da Silva para com os corruptos que se multiplicavam e se expandiam nos seus anos de mandato.

Esse retorno completa o ciclo de aliança do PT-governo com os 300 picaretas do Congresso, pois se faz em nome da “governabilidade” que em bom português quer dizer acumpliciamento. Circulou logo após a explosão das denúncias na mídia uma nota oficial do Partido da República – a que pertence Nascimento – insinuando que Dilma “não foi eleita para ser honesta”, como destacou o Estadão em editorial.

Houve uma explosão, sim, mas produzida pelo feixe de denúncias que teem sido feitas desde a descoberta do mensalão, que teve como protagonista o líder do PR, Valdemar Costa Neto.

Do mensalão para cá, passaram debaixo da ponte a fusão do PL e do PRONA, parindo o PR; as constatações da CGU de graves irregularidades no Minitrans, alvo de 168 processos disciplinares de fiscais e auditores, e a transferência (!?) de poder de Lula para Dilma.

Jorge Hage, o consultor-geral, diz que “a corrupção está no DNA do Dnit”.

Transferência duvidosa neste caso, pois todo esquema de corrupção foi mantida na troca de governo. E não por ignorância, pois um dos aliados mais próximos da Presidente, o governador do Ceará, Cid Gomes, declarou publicamente em maio deste ano que “Alfredo Nascimento é inepto, incompetente e desonesto. E o Dnit é uma quadrilha”.

Profecia? Não, é uma constatação de quem está enfronhado nos bastidores do poder. Quem orienta e comanda o esquema é o famoso Valdemar Costa Neto, e os homens de confiança de Nascimento são Luiz Antônio Pagot, diretor-geral do Dnit, José Francisco das Neves, presidente da Valec Engenharia, Mauro Barbosa Silva, chefe de gabinete, e Luiz Tito Bonvini, assessor pessoal.

Pagot, José Francisco, Mauro e Bonvini  foram demitidos. Ao contrário da guilhotina republicana da revolução francesa, em vez de se cortar a cabeça, apartou-se o corpo. A cabeça que ficou (só a cabeça, o cérebro é de Valdemar Costa Neto) é familiar para Dilma que, quando ocupava a Casa Civil confrontou-o para tirar a limpo a sua alegação de que o PAC não andava porque o dinheiro para as obras não saía.

Diz-se à boca pequena que Dilma sabia das traficâncias no Minitrans – e numa teoria conspiratória, fuxica-se que a própria divulgação da maracutaia saiu do Planalto. Isso não deve ser desprezado de todo, porque dá muito na vista cobrar-se R$ 1 bilhão por270 kmde estrada.

Entretanto, não é por acaso que as denúncias de Cid Gomes e da CGU – que inevitavelmente gerariam suspeitas – não pesaram na decisão da Presidente. Por traz disso vem, em nome da “governabilidade”, o acumpliciamento com os 300 picaretas entre os quais se alinham 40 deputados e 5 senadores “republicanos”.

Há também, ocupando a vaga de Nascimento no Senado, o suplente João Pedro, pelego amazonense do círculo íntimo do ex Lula.

Por tudo isso, vemos Dilma abastardando-se em nome da “governabilidade”, ao se submeter à chantagem do PR. Queima-se pessoal e politicamente, sustentando Alfredo Nascimento na pasta e, portanto, mantendo o esquema “republicano” do superfaturamento e das comissões de 4% (das empreiteiras) a 5% (dos projetistas)…

Com essa decisão, Dilma capitulará na História do Brasil o estigma da complacência com os corruptos e, presentemente, deixa uma dúvida: teria sido esta a moral dos guerrilheiros como ela?

Miranda Sá

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