Dilma Rousseff, passados seis meses sentada na cadeira presidencial, permite colher-se as sementes que plantou nesses 180 dias de virtualidades e concretudes.
Resulta nesta colheita a mistura híbrida do público e do privado, produto realçado no caso da megafusão varejista de Abílio Diniz-BNDES-Carrefour.
Vão para segundo plano o mexe-mexe no setor político e os desafios no campo da economia, com a inflação a imiscuir-se na planície do Plano Real, que tão bem conviveu internacionalmente na bonança e na crise.
No espaço das personalidades, registrou-se a queda de Antônio Palocci, ex-chefe da Casa Civil e base da continuidade da política lulo-petista, e o rotor do relacionamento do governo com o empresariado.
A saída de Palocci deixou seqüelas: a inconveniente intromissão de Lula como articulador político, que prejudicou muito mais que ajudou a Presidente; e as mudanças batizadas de “operação salto alto” – que trouxeram para o núcleo de poder duas novas ministras, Gleisi Hoffmann, na Casa Civil, e Ideli Salvatti, nas Relações Institucionais.
Para elas, ainda é cedo fazer-se uma avaliação, exceto a fraqueza ou mesmo omissão no caso do projeto de fusão do Pão de Açúcar e o Carrefour, com o aval entusiasmado do BNDES.
O “entusiasmado” – foi uma fogueira que iluminou e esquentou o reino das “consultorias” – e se estendeu aos elogios afetados e arrogantes do Palácio do Planalto enaltecendo o sentido “patriótico” da transação que envolvia um amigo do governo, o companheiro Abílio Diniz, e a rede francesa supervarejista Carrefour.
Nenhuma das duas ministras do núcleo “salto alto” expôs à Presidente os riscos de uma operação desse gênero, pondoem jogo R$ 3,9 bilhões (ou até mais) do contribuinte. Outros ministros e assessores, proposital ou inocentemente, esconderam a real situação da transação, sujeita às disputas judiciais e à contestação dos órgãos de defesa do livre mercado.
Este quadro deixa ver claramente a importância da escolha dos auxiliares por um chefe de Executivo, Presidente da República ou Governador de Estado. A formação de políticas públicas deve ser dialeticamente preciso e abrangente, sem erros nem desvios para quem decide, e ampliado para os garantidores da governabilidade.
Ao tomar uma posição, Dilma deveria avaliar previamente com prudência e não posteriormente, como veio a fazer. Além de evitar a promiscuidade entre o público e o privado e de zelar pelo bem público, deveria conhecer as partes envolvidas, os perfis, as propostas e as intenções. Isto, nos limites legais.
Poderia ter dividido com a base parlamentar (leia-se PMDB), as responsabilidades, com um duplo objetivo, garantir o apoio do Congresso e evitar os lobbies defensores de pessoas ou grupos em detrimento dos interesses nacionais.
Em vez de democratizar a participação e as responsabilidades, Dilma, aconselhada pela diretoria do BNDES e alguns dos seus ministros, aventurou-se insensatamente a apoiar a megafusão Abílio-BNDES-Carrefour. Aceitou argumentos disparatados e expôs-se tolamente no caso.
Isso exige mais do que um freio na negociata com dinheiro público. Faz-se necessária uma redefinição da própria governabilidade, afastando de vez por todas a intimidade do poder central com setores privados. Cabe à Presidente construir uma administração real (sem trocadilho), gerenciando a ação governamental com independência e isenção.
Para isso, é urgente libertar-se da sombra desordenada e confusa do seu antecessor, o ex-presidente Lula da Silva, cuja influência é abrangente e nefasta. Se a operação “salto alto” falhou, que se tente novas aquisições capazes de realizar a indispensável mudança estrutural.
Por que não a minirreforma ministerial que vem sendo proposta por analistas políticos independentes? Nunca antes na História deste País um presidente da República, como Dilma, detém as condições objetivas para passar no teste da afirmação política como estadista.
Diz-se que ela não tem vocação para o poder, nunca tendo passado de uma agitadora na sua trajetória pessoal. Mas indubitavelmente aprendeu a disciplina, o conhecimento das pessoas e a estratégia política. São as credenciais requeridas para a transformação que deve ser feita.
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