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ARTIGO

O outro diabo, do povo, venceu o 1º round

MIRANDA SÁ ( E-mail: mirandasa@uol.com.br )

Quando Dilma disse que faria o diabo para conquistar a reeleição, a memória levou-me à adolescência quando encontrei na estante do meu tio Batista o livro de Anatole France “A Revolta dos Anjos”, que li com sofreguidão. Para mim foi dali que surgiram os diabos, um grupo deles. O líder, Lúcifer, rival de Deus, ainda é anjo, segundo a concepção dos católicos.

O grande Dostoievski não acreditava no demônio, como escreveu no seu “Os Irmãos Karamazov” num arrebatado diálogo: “− O diabo existe? − Não, não existe. − Tanto melhor. Não sei por que eu o temia.” Tomás de Aquino, doutor e santo da Igreja Católica, porém, assegura na Suma Teológica a existência dos anjos caídos, personificando o mal.

Fora da Teologia, a crença popular é riquíssima na fauna demoníaca, enumerando dos doutos Lúcifer, Belzebu e Belial, e ainda Demônio, propriamente dito, Satã, Satanás, Coisa Ruim, Canhoto… Os jesuítas encontraram até na língua tupi-guarani nomes para ele, anhanga… E o povo usa a expressão “o diabo a quatro” e, ainda, inflacionando: “Com mil e seiscentos diabos!” Assim, se tem tantos diabos, se tem um para Dilma, tem um para o povo.

O diabo do povo foi solto nas ruas. As manifestações populares surgiram espontaneamente em mais de 300 cidades do País; são vozes roucas, quase cavernosas, excessivas e ampliadas, entoando um canto diferente, um madrigal de insubmissão diante do oficialismo instalado, acomodado, repetitivo, incompetente e inidôneo.

Essas vozes das ruas acordaram o gigante que estava deitado em berço esplêndido, esquecido de que podia ficar de pé… Levantou-se e pisou forte, exigindo direitos que lhe eram negados, do preço dos transportes até a exigência de uma Educação pública de qualidade, de hospitais de padrão de nível civilizado e de justiça boa e perfeita, sem privilégio nem impunidade.

As palavras-de-ordem adotadas exaltaram melhores condições de vida e se dirigiram contra o governo lulo-petista e seus onze anos no poder. Os protestos acusaram-no de autoritarismo por cooptar os movimentos populares, sindicais e estudantis, aparelhando-os e submetendo-os ao partido e ao governo, no mais perfeito modelo fascista.

Foi isto que espantou os ocupantes dos três poderes da República. O Legislativo, acusado pelo cultuado chefe do PT de abrigar 300 picaretas, sujeitou-se pelo fisiologismo pelo loteamento de 40 ministérios; e o Judiciário, enroscado num emaranhado de leis e burocratizado pelo bacharelismo, imobilizou-se.

O Executivo, então, certo de controlar o povo através da maior central sindical, a CUT, do movimento camponês dos sem-terras, MST, e da UNE, entregue à dissipação e passividade. E surpreendeu-se.

A independência do povo assustou o PT-governo como nunca antes neste país… O apartidarismo chocou os ‘especialistas’, e revoltou os sectários, vendo suas bandeiras rasgadas e frações organizadas da militância vaiadas e escorraçadas.

O diabo do povo acicatou com seu tridente o Congresso, que se apressou em desengavetar projetos antigos que atenderiam as exigências populares, como também o STF, tomado de coragem prender um deputado bandido, até então acoitado pelos seus pares na Câmara.

Constrangido, o PT-governo admite alguns equívocos selecionados e pinçados pelos pelegos assessores. Mas “esqueceu” de muitos; e os principais são a leniência com o processo inflacionário, a blindagem dos corruptos do partido e da copa e cozinha de Lula da Silva, e o sucateamento da Petrobras, corroída pela corrupção.

Finalmente, o alvo mais visado, é o escândalo da Copa do Mundo, destacado na precedente Copa das Confederações. Esportivamente, despiu a inaptidão da falsa “gerentona”, um estelionato eleitoral explícito. Indignou a entrega da soberania nacional à FIFA, pelo grupo Lula-Teixeira-Cabral-Paes, envergonhando e revoltando os brasileiros de todas as classes sociais.

Assim, o diabo do povo ganhou o primeiro round contra o diabo de Dilma. Com ele, tivemos uma vitória satânica: O esvaziamento da Tribuna de Honra do Maracanã, sem a Chefe da Nação e seus acólitos, acovardados com medo das vaias e emparedados no bunker brasiliense tramando diabolicamente uma desforra.

Miranda Sá

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