Categorias: Notícias

Adeus, Fofômeno

Com a aposentadoria de Ronaldo, entra para a história a primeira geração dos ídolos sem pátria.

Ronaldo é um fenômeno: trata-se do primeiro jogador brasileiro a se consagrar no mundo sem ter tido importância em nenhum clube do seu país.

Um carioca que nunca brilhou no Maracanã. E que abriu caminho para a privatização do patriotismo.

A seleção brasileira era dele. Pelo menos ele acreditava nisso. Ficou claro na Copa da Alemanha, onde foi passear com Roberto Carlos, Ronaldinho, Cafu e seus companheiros ricos e entediados. Ronaldo pesava mais de 100 quilos, mas a culpa era da imprensa.

O Fenômeno, então apelidado por Bussunda de Fofômeno, se irritava com a invasão de privacidade. Queria curtir em paz seu spa de chuteiras, vestindo a camisa amarela imortalizada por Pelé.

A espiral de marketing e dinheiro inflacionou Ronaldo. Um grande velocista e bom finalizador virou mito – sem ter o talento de um Falcão, para citar um dos craques não canonizados pela propaganda.

Ronaldo é o símbolo de um tempo que consagra Cristiano Ronaldo, na fábrica de lendas desse medíocre e incensado futebol europeu.

Em 2002, o já ex-Fenômeno venceu uma batalha heróica contra uma contusão grave, se tornando um belo símbolo da conquista do penta. Mas não brilhou como Romário em 94, menos ainda como Pelé e Jairzinho em 70. A rigor, não jogou mais que Rivaldo, seu esquecido colega de time.

Mas o deus da propaganda escolheu Ronaldo para ser o Fenômeno. Foi esse o sobrenome usado por ele para apresentar-se à prostituta que, no final, era travesti. As coisas nem sempre são o que parecem.

Ronaldo parecia ser o bom moço, o exemplo para as crianças. Acreditou nesse script também. Topou ser quem não era.

Sem a gordura do marketing, o cara simples, bem-humorado e moleque (no bom sentido) talvez tivesse ido mais longe.

Mas sua despedida, sentado ao lado de um obscuro presidente do Corinthians, desfilando mágoas e ressentimentos, resume o caminho escolhido.

Um ídolo candidato a vítima. Perguntem a Pelé se isso é possível.

Guilherme Fiúza, jornalista

Marjorie Salu

Compartilhar
Publicado por
Marjorie Salu

Textos Recentes

DA ÉTICA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Entre os méritos que não deixo de lembrar e elogiar, a antiga Editora Abril nos deu…

20 de outubro de 2025 18h10

FALANDO GREGO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) Clássico é clássico; não foi por acaso que Shakespeare criou expressões que…

13 de outubro de 2025 18h05

DAS PAIXÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor…

8 de outubro de 2025 8h55

DAS PROIBIÇÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Na ditadura militar que durou de 1964 a 1979 censurando a expressão do pensamento, cantou-se a…

30 de setembro de 2025 18h41

Augusto Frederico Schmidt

As chuvas da primavera Em breve virão as chuvas da Primavera, As chuvas da primavera Vão descer sobre os campos,…

25 de setembro de 2025 20h00

DE MURMÚRIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Só ouvi a palavra “Murmúrios” em letras de boleros e tangos. É visceral; o seu intimismo…

24 de setembro de 2025 12h03