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A UTI DA LINGUÍSTICA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasasa@uol.com.br)

A minha pretensão de contar leitores próprios para os meus textos, levou-me a pensar que todos sabem da minha mania de visitar a UTI da Linguística no Hospital da Gramática…. Ninguém vai estranhar que para projetar a futurologia para 2024, fui tirar de lá a palavra “Blefe”.

O verbete dicionarizado é um substantivo masculino significando a ação de blefar, isto é, de enganar, principalmente procurando iludir no pôquer fingindo ter boas cartas. É vasta a sua sinonímia: engano, disfarce, logro, simulação, tapeação….

A etimologia leva ao holandês, “Blufffen” (“exagerar a própria capacidade”). Ao atravessar o Canal da Mancha foi batizada de “Bluff na Inglaterra.

Os puristas do idioma mantêm uma discussão sobre a diferença entre mentir e blefar, embora ambos tenham a mesma intenção de enganar e lograr alguém; no campo do Direito se distingue seus aspectos concebendo que o Blefe é imoral no seu propósito de falsear, e a mentira é um ato criminoso com intenção de prejudicar a quem se refere.

Apesar de criminosa, a mentira vive no cotidiano social e o mentiroso tem o intuito muitas vezes planejado de adulterar, atraiçoar e desvirtuar. Temos um exemplo muito interessante disto num filme antigo, de 1997, “O Mentiroso”.

É uma divertida comédia filmada sob a direção de Tom Shadyac estrelado por Jim Carrey, indicado ao Globo de Ouro como Melhor Ator de Comédia. Discorre sobre o comportamento de um advogado inescrupuloso de Los Angeles, Fletcher Reede, e sua relação com a esposa Audrey e o filho Max, a quem dedica profundo amor.

Acusado pelos que lhe cercam como incapaz de cumprir uma promessa e farto divulgador de mentiras teve o casamento desfeito pela mulher não tolerar este comportamento. No seu aniversário, Max também revoltado pelos problemas causados pelo pai, cria, ao soprar as velinhas, o desejo de vê-lo falando a verdade por 24 horas…. E daí temos um final feliz que pode ser conferido assistindo a fita…

Na linguagem morfológica e psicológica, a Mentira se faz presente no convívio social, mas a sua expressão grosseira e revoltante se encontra na cena política, impudica, com seus agentes praticando-a nos palanques eleitorais, nas tribunas parlamentares e nos pronunciamentos presidenciais e ministeriais.

A mentira mais nojenta e revoltante sai da língua mentirosa da polarização eleitoral que o sistema impõe à Nação Brasileira. No seu lado fonético estimula o fanatismo dos indivíduos, levando-os ao culto da personalidade dos líderes de facção.

Estes desvairados ególatras, Bolsonaro e Lula, cada um do seu modo e linguagem peculiar, mentem descaradamente. Fazem-no com a intenção criminosa de se manter no poder usufruindo vantagens pessoais e familiares.

É escandalosa a mentira gerada pelo maquinismo polarizador, com uma percussão diabólica cujas escalas maiores e menores atordoam os ouvidos dos democratas autênticos e penetram nos neurônios dos desavisados, promovendo o derrame sanguíneo da demência.

Mentindo, Lula e Bolsonaro, polarizadores da falsa direita e da falsa esquerda, soltam aos quatro ventos o discurso do mal; e assim fazendo, nos roubam até o mito da Caixa de Pandora que, após espalhar todas as desgraças do mundo manteve no fundo o único dom, a Esperança.

Esta ficou ao pé da Árvore-de-Natal, projetando a sadia expectativa para 2024; mas será trágico se ao abrir tardiamente um presente esquecido, achemos na modesta embalagem, bem escondidinho, o Blefe de 2024.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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