Categorias: Artigo

VERGONHA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

                                             “Negociatas, maracutaias, benefícios, prerrogativas… Empreiteiros, burocratas                                                                         a dança dos aditivos contratuais, Supremo Tribunal Federal…”                                             (Philipe Kling David/Miranda Sá)

Estou tomado de indignação e revolta, aumentando o percentual de 34% dos brasileiros que têm vergonha de ser brasileiros, quadruplicando em cinco anos o número deste desalento em relação à nossa Pátria.

Não poderia ser de outra forma, após o anúncio de que a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, por 3 votos contra dois, soltou José Dirceu, autor intelectual do assalto que o lulopetismo perpetrou organizadamente contra o Erário, como uma quadrilha de malfeitores.

Três dos juízes que não se negam a atender interesses alheios à Justiça assumiram esta decisão. São eles – para registro da História –, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, os dois primeiros pelas ligações políticas com o PT e Mendes por suspeitosa atuação na Corte.

É também necessário consignar que Dirceu estava preso desde agosto de 2015, condenado em 1ª Instância pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito do Petrolão. E que já havia cumprido pena por atuação semelhante no caso do Mensalão.

Creio não ser o único a sofrer tamanha humilhação, por que envergonhar a cidadania como fez o Supremo, ultrajando a dignidade nacional, não pode ser aceito pelos que têm amor próprio. A indução deste opróbio é um verdadeiro estupro na consciência patriótica, um insulto aos que ainda acreditavam na Justiça.

O gangsterismo político atingiu o ápice com esta decisão que inegavelmente tem a finalidade de atingir a Operação Lava Jato, apoiada pela grande maioria do povo brasileiro. O acatamento ao pedido de habeas corpus de Dirceu soma-se a outras medidas tomadas em favor de corruptos presos.

A soltura em sequência de João Cláudio Genu, José Carlos Bumlai e Eike Batista envolvidos até o gogó em esquemas de corrupção, fere profundamente a ação corretiva que a PF, o MPF e o juiz Sérgio Moro vêm realizando sob aplausos gerais.

Nem todos sentem vergonha. Os amorais e os psicóticos não sofrem diante da desonra. Vergonha, dicionarizada como substantivo feminino, é o sentimento de um ultraje sofrido. A palavra vem do latim, “verecundia”, conceituada como condição psicológica de sofrimento pelo conhecimento de uma calamidade.

É vasta a sinonímia de vergonha, que aparece como aviltamento, constrangimento, desgraça, enxovalho, rebaixamento e vexame são alguns deles; e a calamitosa decisão do STF lembra uma estória que ouvi na adolescência:

Deus, quando disse faça-se a terra entre as águas, distribuiu as regiões que viriam a ser países pondo em cada qual percalços, proveitos ou transtornos.  No Japão e na Coréia, pôs terremotos, na China, inundações; na Indonésia tsunamis, na Índia fome, na Europa e América Central, vulcões; na África do Norte, desertos e nos Estados Unidos e Caribe, furacões e ciclones.

Para o Brasil, o Senhor mandou botar uma natureza exuberante, uma terra fértil, climas bem distribuídos, água à vontade. O filho de Deus, Jesus, falou-lhe que achava um exagero aquinhoar um País somente com coisas boas. O Justo disse então:

Verás que o povo que vai viver lá não precisa sofrer desgraças naturais para sofrer: Terá uma classe política miserável e um Supremo Tribunal Federal julgando às avessas, condenando a Nação e absolvendo os ladrões.

Marjorie Salu

Compartilhar
Publicado por
Marjorie Salu

Textos Recentes

FALANDO GREGO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) Clássico é clássico; não foi por acaso que Shakespeare criou expressões que…

13 de outubro de 2025 18h05

DAS PAIXÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor…

8 de outubro de 2025 8h55

DAS PROIBIÇÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Na ditadura militar que durou de 1964 a 1979 censurando a expressão do pensamento, cantou-se a…

30 de setembro de 2025 18h41

Augusto Frederico Schmidt

As chuvas da primavera Em breve virão as chuvas da Primavera, As chuvas da primavera Vão descer sobre os campos,…

25 de setembro de 2025 20h00

DE MURMÚRIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Só ouvi a palavra “Murmúrios” em letras de boleros e tangos. É visceral; o seu intimismo…

24 de setembro de 2025 12h03

Marina Colasanti

Outras palavras Para dizer certas coisas são precisas palavras outras novas palavras nunca ditas antes ou nunca antes postas lado…

21 de setembro de 2025 20h00