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Vândalos – O Retorno

Miranda Sá (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

A memória ginasiana já vai longe e não me lembro mais se foi Catão – O Antigo – ou o famoso Cícero das “Catilinárias”… Um dos dois criou o princípio adotado pelo Direito Romano: “Fora das nossas fronteiras, todos são bárbaros”.

Entre os considerados bárbaros, havia uma tribo germânica no nordeste da atual Alemanha que imigrou para o Sul no século V, e até hoje é falada, os Vândalos. Grupo numeroso e aguerrido imigrou para a Península Ibérica, onde recebeu terras dadas pelos romanos. Daí foi para a África do Norte e invadiu e dominou Cartago.

Eram ferozes com os inimigos e por onde passavam não deixavam pedra sobre pedra e, ingratos, terminaram penetrando no Império Romano, civilizado, já “cristão”, e lá ganharam fama pela violência ilimitada, torturando, estuprando, saqueando, matando, e destruindo tudo.

Eles reapareceram por aqui. São “gente que não gosta de gente”, como satirizou o chargista Angeli apontando “matador de gays”, “incendiário de mendigos”, “estuprador de mulheres”, “espancador de negros” e “perseguidor de nordestinos”…

Essas hordas malignas se infiltraram entre os manifestantes das famosas passeatas de junho; contando com o apoio político de partidos, certo interesse do PT-governo e o sensacionalismo de alguns órgãos da imprensa, e terminaram se impondo em todas as manifestações que se seguiram.

As populações perplexas assistiram, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, o fechamento de vias públicas, depredação de prédios governamentais, agências bancárias e revendedoras de carros. Devastaram peças de utilidade pública, placas, sinais de trânsito, caixas de correio e lixeiras. Profanaram estátuas e monumentos pátrios.

Dê-lhes o nome que se dê porque as contumazes ações do vandalismo atual são atribuídas a grupos com várias denominações.

Veiculadas pela televisão, cenas indescritíveis abalaram e constrangeram a sociedade, mostrando mascarados vestidos de negro, ou de cinza, discrepando do todo manifestante com atos de violência condenáveis.

Os manifestantes pacíficos, que procuram democraticamente ocupar as ruas e as praças com críticas e protestos, clamaram para a opinião pública, alertaram as autoridades governamentais e tentaram influenciar a mídia. Não tiveram eco.

Com o bárbaro assassinato do cinegrafista da TV-Bandeirantes, Santiago Andrade, a opinião pública, autoridades dos governos e os meios de comunicação despertaram da inércia. Tratava-se de um profissional de imprensa que recebeu imediato e incontestável protesto das entidades representativas da categoria.

Realmente. As cenas filmadas por amadores, colegas da mídia e até de uma tevê russa mostrando a brutalidade, são chocantes. Atirou-se um rojão para matar. Talvez o alvo não fosse Santiago, mas um policial ou outra pessoa qualquer. Uma obra de vândalos.

Agora assistimos o chororô da presidente Dilma, do governador Cabral, e dos políticos em geral. Sabe como é, politizar para aparecer, mostrar-se como não são.

Ocorre que o tiro saiu pela culatra. Doravante fica insustentável culpar apenas a polícia pela repressão. Apareceu a “força oculta”, mercenários travestidos de militância partidária que se sentiam protegidos pela impunidade ideológica sustentada por inocentes úteis, intelectuais, advogados e juízes

Com relação à população, porém, a comoção é geral. Uma indignação ampla e irrestrita, sem ilusões sobre o vandalismo. A voz rouca das ruas exige uma punição exemplar para os bandidos anti-povo.

Para dar satisfação ao clamor social contra a barbárie, dois bodes expiatórios apareceram. Um falso tatuador, Fábio Raposo, com duas passagens pela polícia, farsante e industriado pela organização; o outro, um vago retrato falado de indivíduo descrito por ele, diferente do que foi filmado pelas costas.

Na verdade, não são apenas os dois; nem o fantasioso sujeito amedrontado que se apresentou, nem o parceiro virtual. A culpa é de uma falange fascista, sustentada financeiramente por alguém. É isto que se precisa investigar e punir. O retorno dos Vândalos e quem os instiga e sustenta.

Miranda Sá

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