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SELFIE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Faz-se leprosários para leprosos, manicômios para os loucos e prisões para os criminosos, mas não há um asilo fechado para os imbecis” (Pittigrilli)

Não me lembro onde e quando tomei conhecimento de que a equipe permanente da Enciclopédia Britânica aprovou a composição da palavra selfie. Esse neologismo da língua inglesa que até 2016 não havia sido dicionarizado no Brasil; mas apareceu na linguagem coloquial como farinha em feira.

Há expressões que possuem uma grande facilidade em se fixar na linguagem comum, e há também palavras que entram na cabeça da gente sem nenhuma explicação, como selfie, que somou ao substantivo “self” (“eu” ou “a própria pessoa”, em inglês) ao sufixo diminutivo “ie” (“-inho (a)”), resultando, em tradução direta, “euzinho (a)”.

A Wikipédia, enciclopédia livre que navega no Google, define Selfie como fotografia, comumente digital, que uma pessoa tira de si própria e às vezes envolve outras pessoas, as “selfies em grupo”.

Historiadores meticulosos ligam à selfie ao secular “autorretrato”, atribuindo a primeira versão deste a Robert Cornelius, que em 1839 tirou-o do lado de fora de sua loja na Filadélfia, EUA. Na época, imaginem, ele teve que permanecer em pé por mais de 15 minutos para conseguir a foto!

Em 1920, o fotógrafo nova-iorquino Joseph Byron tirou uma selfie dele com amigos em um terraço sem que nenhum deles soubesse aonde a câmera estava; e são conhecidas diversas experiências dessas fotografias diante de um espelho, quem sabe, feitas por alguns de nós do Twitter…

A moda obedece a leis sociais que, com as novas tecnologias se tornam cada vez mais instáveis e mais velozes; hoje, em qualquer país do mundo, nos mais recônditos locais da África, da Amazônia e de Bornéu, se fazem selfies.

Passei a vista num estudo sobre pessoas que tiram selfies sem nenhum treinamento em fotografia e se adaptam espontaneamente às regras clássicas da composição fotográfica, como a regra dos terços….

Apesar dos avanços intelectuais e técnicos as selfies têm seu lado negativo, a obsessão de muitos, entrando deste modo nos estudos da mente, mobilizando psicanalistas e psicólogos. As análises psicopatológicas iniciais incluem narcisismo, baixa autoestima, solidão, egocentrismo e comportamentos de busca de atenção, sendo ainda mais graves as postagens em redes sociais.

Para enriquecer esses estudos, sugiro que se façam amostragens nos antros da politicagem parlamentar, onde um imenso número de pessoas se acotovela para tirar selfies com os seus corruptos favoritos.

Mesmo não tendo o conhecimento médico do cérebro humano, arrisco dar opinião sobre a interação eleitor-político, cuja exibição de intimidade é, ao meu ver, mais do que um transtorno mental, uma demonstração de acumpliciamento…

Lembro que lá nos EUA, fonte imperial das fake news, dos antifas, do racismo pelo avesso e das feminazis, uma revista sensacionalista publicou que artistas famosos apagaram selfies tiradas ao lado de Kevin Spacey durante a entrega do Oscar de 2014, quando o assediador brilhava.

Será que se envergonham aqui na colônia, os milhares de cariocas que fizeram selfies com Lula, Cabral, Dilma e Pezão, a quadrilha que arrasou o Rio de Janeiro? Podem se somar às vidas apagadas dos que caíram de precipícios, sacadas de edifícios e atropeladas em linhas de estrada de ferro para não perder a oportunidade de fazer uma selfie.

Isto exposto, dou razão ao escritor ítalo-argentino Pittigrilli: faltam, realmente, asilos fechados para os imbecis…

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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