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REMÉDIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A história exata é sempre vista como paradoxal. O bom historiador está sempre em contradição com o seu meio” (Nietzsche)

Fui hóspede de um querido amigo em Natal, no Rio Grande do Norte, e numa conversação à mesa, a mulher dele reclamou que ele não estava tomando os remédios prescritos pelo cardiologista após a colocação de stents em artérias do coração.

Eu, que me submeti ao mesmo procedimento médico quase ao mesmo tempo que ele, tomei um susto, pois rotinizei obrigatoriamente a medicação diária. Como o meu amigo imprudente, conheço muita gente que é contra os remédios; mas ainda não tinha visto alguém se recusando a cumprir uma prescrição médica vital.

Partindo do ditado “pimenta nos olhos dos outros é refresco”, há também pessoas que negam os avanços da farmacologia e a eficiência dos medicamentos. Eu tenho um primo vegano defendendo “ideologicamente” que os remédios “só fazem bem aos laboratórios estrangeiros…”

Confesso em que houve uma época que eu também refutava as “bolinhas” até o dia em que precisei delas… Combatê-las é, a meu ver, um contrassenso; não reconhece a milenar prática medicinal negando através dos tempos, desde os xamãs europeus, videntes indianos e tibetanos, curandeiros africanos e pajés brasileiros.

No nosso rico País onde a Natureza é pródiga, a fitoterapia estudada entre os indígenas pelo etnólogo amazonense Nunes Pereira, revela a existência da farmácia da floresta, o mítico Noçoquén – horta de plantas curativas –, que, segundo a lenda, é guardada “por uma jovem e bela mulher conhecedora de processos curativos e da oração pela defesa do mundo vegetal”.

A mitologia das tribos Apiacá, Maué, Munducuru e Mura, ensina-lhes como remediar as doenças com a flora, assim como fizeram os geniais Pasteur e Hahnemann, patronos da Medicina moderna.

Antiquíssimo, vive ainda nos nossos dias o Buda da Cura tibetano, apontando o caminho da salubridade com o chá de certas ervas mágicas e a meditação. Além de salvar o corpo físico, o budismo ensina a cura e a evolução da alma pelas sucessivas reencarnações, trazendo o exemplo evolucionário do próprio Sidarta Gautama – O Buda –, na sua passagem pela Terra.

Conta-se que Sidarta pregava sobre a conquista da santidade pelo espírito assumindo uma nova vida material após a morte, quando um dos presentes lhe indagou qual fora a sua primeira encarnação, e ele respondeu: – “Foi uma lebre”.

… E relembrou: – “Caminhando pelo campo, vi um pobre homem botar uma panela no fogo com um pouco d’água. A água ferveu e o miserável nada tinha para acrescentar-lhe; tive pena dele e pensei que uma lebre lhe serviria; então atirei-me à panela”.

Este comportamento altruísta é raro no mundo, pois necessita de ações voluntárias de solidariedade humana, pessoais e coletivas, como o Cristo enfrentou o martírio e a cruz para salvar a humanidade.

Pelo visto, é contraditória a visão terapêutica dos povos ditos primitivos e a desconfiança atual pela farmacologia, seja alopática ou homeopática, que é indispensável no combate de inúmeras enfermidades.

Na verdade, ocorre que só não há remédio para a morte e muito menos para o crime antissocial. Nem o altruísmo budista, nem o sacrifício da autoflagelação de algumas seitas impedem o castigo para os bandidos, traficantes, ladrões, corruptos e corruptores que desrespeitam, infringem e violam os direitos da cidadania.

Que o falso humanismo dos cúmplices da corrupção não nos impeça de sugerir que sejam ministradas aos corruptos, milicianos e traficantes doses cavalares de curare, ao contrário do que fazem alguns ministros do STF, remediando com a impunidade presos condenados pela Justiça em instâncias inferiores.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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