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REELEIÇÃO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A negação não é uma poça d’água. É um oceano. E como podemos fazer para não nos afogarmos? ”  (Grey’s Anatomy)

Foi divulgada há dois ou três anos, não me lembro quando, uma pesquisa que supus séria pelos dados gerais, a abrangência e o número de entrevistados. Entre diversos itens, um deles me chamou a atenção e eu anotei: 86% dos eleitores não se lembravam do candidato em que votaram.

O tempo se passou e acredito que este percentual será igual ou maior para responderem se recordam das promessas eleitorais do político que elegeu, vereador ou prefeito, deputados estaduais e governadores, congressistas e até do presidente da República!

Também os compromissos eleitorais, ou grande parte deles, não são cumpridos; e desconfio que essa displicência alienada continue dando crédito às mesmas promessas repetidas nos palanques reeleitorais, levando-nos a pensar como Eleanor Roosevelt: “Se alguém trai você uma vez, a culpa é dele. Se trai duas vezes, a culpa é sua”.

Cabe realmente ao “eleitor cúmplice” a responsabilidade de levar duas vezes ao poder um traidor. É por isto que não merece perdão o ex-presidente Fernando Henrique Cardozo por ter aprovado a reeleição e criado o “mensalão”, com o qual comprou a sua.

A reeleição é uma inimiga perigosas da Democracia. Seria maçante e até impertinente falar de reeleição nos municípios – aonde começa a corrupção que assola a política brasileira –, da mesma forma como reconhecer que esta legislação infame favorece as oligarquias corruptas e corruptoras pelo Brasil afora.

Dizem que o mandato de quatro anos para os cargos executivos é pouco tempo para o eventual ocupante do poder se afirmar como administrador da coisa pública. A culpa é da Constituição de 1988 – tantas vezes emendada pelo Legislativo e descumprida pelo Judiciário -, mas intocável no caso de aumentar para cinco anos o exercício do cargo executivo; assim, ajuda a reeleição que só satisfaz aos ambiciosos.

Muitos esqueceram, mas nas últimas eleições os ambiciosos ainda disfarçados de reformistas, se diziam contra a reeleição. Um deles foi o atual presidente Jair Bolsonaro que agora, mesmo no momento difícil que o país atravessa, tem como único propósito, a própria reeleição.

No Palácio do Planalto tudo gira em torno das eleições sucessórias vindouras; todos ali estão engajados na campanha antecipada, dos generais da reserva que formam a guarda pretoriana do Presidente, ao trio maravilhoso dos filhotes aproveitadores da política personalista do pai, cada vez mais facciosa e populista.

Diz o liberalíssimo ditado popular que “em cada cabeça uma sentença”, e por este princípio individualista, o presidente Jair Bolsonaro pode fazer politicamente o que lhe der na telha, contando que esteja de acordo com a Lei.

Seria interessante, entretanto, que o Presidente tivesse a humildade de aprender as lições que as eleições norte-americanas trouxeram, exceto acusar fraudes aonde não há, nem negar a vitória de um adversário, como faz o seu figurino Donald Trump.

A mais expressiva entre as lições positivas foi a participação diligente e expressiva do cabo eleitoral Coronavírus e sua auxiliar ativista Covid-19. Podem somar: Assistimos pesar na apuração final as simpatias e antipatias pessoais, o partidarismo e as ideologias; mas a derrota de Trump se deveu ao negacionismo que deu continuidade ao desdém pela pandemia, por puro egocentrismo e cabeça dura…. O povo não é bobo.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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