Categorias: Artigo

QUADRILHAS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Um pequeno ladrão é colocado na cadeia. Um grande bandido torna-se o governante de uma nação” (Chuang Tzu)

O nosso epigrafado que vem do século IV a/C, Chuang Tzu, foi um filósofo chinês que se contrapôs a Confúcio, e é considerado pelo economista norte americano Murray Rothbard o precursor do liberalismo econômico por ter desenvolvido um dos conceitos econômicos mais importantes do mundo: a ordem espontânea.

Murray Rothbard, autor do badalado livro “Esquerda e Direita” e criador do anarcocapitalismo, destaca entre os pensamentos de Chuang Tzu: –  “o que o homem conhece, nem sempre se compara com o que ele não conhece”.

O volume do que desconhecemos é incomensurável. Assistindo o desenrolar da briga nos andares de cima pelas propinas na compra da vacina da Covaxin, sintetizei os pequenos e grandes ladrões como quadrilha.

A palavra “Quadrilha” dicionarizada é um substantivo feminino de etimologia do castelhano “cuadrilla”, designando grupo de quatro pessoas ou mais, e chegou à França do século XVIII como “quadrille”, uma dança elitista dos salões da alta aristocracia parisiense.

Coloquialmente a palavra popularizou-se como bando de ladrões ou salteadores, corja, gangue, malta, súcia. E se consagrou como dança alegre e movimentada nas nossas festas juninas, principalmente no Centro-Oeste e no Nordeste. Alguns pesquisadores defendem que teve origem holandesa e, por influência portuguesa veio para o Brasil dos Açores.

No mês de junho, quando ocorre o solstício de Inverno no Hemisfério Sul, os festejos homenageiam os santos Santo Antônio, São João e São Pedro, uma adaptação religiosa dos primitivos costumes de acender fogueiras em homenagem ao deus-sol para agradecer a colheita.

A versão católica prende-se à mitologia evangélica contando que as primas Isabel (mãe de São João Batista) e Maria (mãe de Jesus Cristo), grávidas, combinaram em acender uma fogueira para anunciar o nascimento dos filhos.

As fogueiras que ainda são acesas fazem parte das festas juninas que inicialmente foram estimuladas pelos jesuítas, fugiram do controle clerical tornando-se uma prática popular e mundana.

Trazem-nos saudades as comemorações juninas dos santos do povo. Como era bom dançar quadrilha, comer amendoim cozinhado no sal, canjica, milho assado na brasa, mungunzá, pamonha e pé de moleque! Tomar quentão para esquentar; soltar balões, brincar com fogos de vista inocentes, os chuveirinhos, diabinhos, estrelinhas, mijões, peido de velha, rodinhas-de-fogo e traques de chumbo….

Das tradições portuguesas, sincretizadas com a cultura dos povos migrantes, africanos por sujeição escravocrata e europeus fugindo das guerras e da pobreza, restam muito poucas coisas boas, e ao mesmo tempo nos decepcionando com outras quadrilhas, as quadrilhas políticas que dançam a dança ignominiosa da corrupção.

A antiga dança alegre e movimentada sob a música típica, transformou-se em visitas soturnas, conversas suspeitas, telefonemas comprometedores e o coro criminoso de pedidos de propina.

Folclorizou-se estupidamente como associação criminosa, bando e gangue….  Os seus protagonistas estão enquadrados no artigo 288 do Código Penal Brasileiro, a fim de responder pelos crimes de advocacia administrativa, corrupção ativa ou passiva, concussão, falsidade ideológica, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e prevaricação.

Como se diz na gíria militar: “meia dúzia de três ou quatro” criminosos ocupando altos cargos no governo, exigem o pagamento de vantagens na compra de vacinas e insumos médico-hospitalares.

É uma triste fatura pelos boletos do negacionismo fraudulento, tão lucrativo quanto o tráfico de drogas e as múltiplas atividades criminosas das milícias. Pelas denúncias, suspeita-se que isto esteja ocorrendo no Governo Bolsonaro. E nós, ainda sem adotar bandido de estimação, queremos que as investigações da CPI da Covid vão a fundo para que a verdade apareça.

Marjorie Salu

Compartilhar
Publicado por
Marjorie Salu

Textos Recentes

FALANDO GREGO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) Clássico é clássico; não foi por acaso que Shakespeare criou expressões que…

13 de outubro de 2025 18h05

DAS PAIXÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor…

8 de outubro de 2025 8h55

DAS PROIBIÇÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Na ditadura militar que durou de 1964 a 1979 censurando a expressão do pensamento, cantou-se a…

30 de setembro de 2025 18h41

Augusto Frederico Schmidt

As chuvas da primavera Em breve virão as chuvas da Primavera, As chuvas da primavera Vão descer sobre os campos,…

25 de setembro de 2025 20h00

DE MURMÚRIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Só ouvi a palavra “Murmúrios” em letras de boleros e tangos. É visceral; o seu intimismo…

24 de setembro de 2025 12h03

Marina Colasanti

Outras palavras Para dizer certas coisas são precisas palavras outras novas palavras nunca ditas antes ou nunca antes postas lado…

21 de setembro de 2025 20h00