Quando eu era menino, o mês de novembro abria a minha curiosidade no campo religioso; todas as emissoras de rádio tocavam apenas músicas clássicas no dia 2, consagrado aos mortos; e as famílias faziam terços para rezar pelas “almas do purgatório”.
Amarrado e deitado numa cama de CTI em virtude da inquietante e penosa gastroenterite aguda que me atacou, vieram-me estas recordações e a lembrança do que seria o Purgatório; onde, se não me engano, o “fogo do purgatório” seria o mesmo “fogo do inferno” que tormenta os condenados….
A ideia do Purgatório veio depois do “cristianismo imperial” criado por Constantino. Não consta no Velho Testamento nem sequer dos Evangelhos. Segundo estudiosos, nasceu na Idade Média graças ás consequentes angústias, privações da época, e os pecados de sempre com os pecadores ansiando pelo reino do céu.
Entre os séculos 12 e 13, Santo Agostinho já preconizava um meio termo entre a salvação eterna dos castos e a condenação das pessoas inclinadas ao pecado, as orações para os falecidos, segundo o doutor da Igreja, suavizariam a condenação pela bondade divina….
Teólogos “oficiais” ou fanatizados, defendem a tese de que o Purgatório é um lugar à parte baseados numa interpretação forçada de texto no Livro do Apocalipse (21,27), prescrevendo que na “cidade santa”, na “nova Jerusalém (…) não entrará nada de impuro”.
Para mim, esse “lugar à parte” está nas UTIs dos hospitais referidos pelo grande orador e pensador paraibano Alcides Carneiro, discursando ao inaugurar um deles: “Esta é uma casa que por infelicidade se procura, mas por felicidade se encontra”.
Por infelicidade, procurei tratar-me da grave enfermidade que sofri e por felicidade, passei por dois hospitais. O meu padecimento levou-me a lembrar-me dos meus tempos “subversivos” de militante da imprensa, quando “O Pasquim” criou o termo “Máfia de branco” em voga nas conversas de botequim.
A locução baseava-se a imagem negativa da categoria, fomentando greves na Previdência ou cometendo erros pontuais com cirurgiões esquecendo pinças na barriga do paciente ou clínicos receitando remédio trocado por engano.
Meus contatos com médicos diferem desses antigos conceitos. No caso em pauta, devo-lhes à volta da saúde, para não ir ao extremo alegando a manutenção da vida, que tanto amo.
Na minha opinião, a “Máfia de Branco” reúne, na verdade, os donos de hospitais e clínicas em geral, que comercializam – este é o termo – a doença. É a ganância que transforma as UTis num Purgatório, não os profissionais de saúde, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e pessoal de serviços gerais.
Pairando sobre tudo normas e ostensiva burocracia. Para receber uma alta, normal, prescrita pelo médico plantonista é um pesadelo. Louco para sair e vê apreensivo o tempo se multiplicando. Sem qualquer explicação convincente. Sai da UTI para um quatro, medida já anunciada, graças à minha mulher, que rodou a baiana apoiada pelos filhos.
Neste cenário temos a genial visão de Dante Alighieri, para quem o meio termo entre o Céu e o Inferno, o dogmático Purgatório, fica lá para as bandas da Antártida, numa ilha que tem uma grande montanha no centro, que sobe até alcançar os céus: o Monte Purgatório.
É para lá que eu gostaria de mandar com passagem somente de ida, os comerciantes mafiosos da Saúde, como também a quem – em nome de mais de 700 mil mortos pela covid 19 -, incluo a recente aquisição da política necrófila, os negativistas.
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