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Poesia

SEUS OLHOS SEMPRE PUROS

Dias de lentidão, dias de chuva,

Dias de espelhos quebrados e agulhas perdidas,

Dias de pálpebras fechadas ao horizonte

[ dos mares,

De horas em tudo semelhantes, dias de cativeiro.

Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas

E as flores, meu espírito é desnudo feito o amor,

A aurora que ele esquece o faz baixar a cabeça

E contemplar seu próprio corpo obediente e vão.

Vi, no entanto, os olhos mais belos do mundo,

Deuses de prata que tinham safiras nas mãos,

Deuses verdadeiros, pássaros na terra

E na água, vi-os.

Suas asas são as minhas, nada mais existe

Senão o seu vôo a sacudir minha miséria.

Seu vôo de estrela e luz,

Seu vôo de terra, seu vôo de pedra

Sobre as vagas de suas asas.

Meu pensamento sustido pela vida e pela morte.

Paul Éluard

(Tradução: José Paulo Paes)

O Poeta

Eugène-Émile-Paul Grindel —, nasceu no ano de 1895 em Saint-Denis, hoje um subúrbio ao norte de Paris. O “Éluard”, adotado depois, era o sobrenome de sua avó materna. Com 16 anos, acometido de tuberculose, foi internado no sanatório de Clavadel, na Suíça, onde teve como colega o nosso Manuel Bandeira. Foi o primeiro encontro de Éluard com um grande artista brasileiro.

Também no sanatório de Clavadel, Éluard conheceu e se apaixonou por uma jovem russa, Helena Diakonova, a quem deu o apelido de Gala. Os dois casaram-se durante a guerra, em 1917. Viveram juntos até 1929. Gala em seguida se casaria com o pintor espanhol Salvador Dalí.

Embora o trabalho de Paul Éluard tenha conhecido várias fases — foram dezenas de títulos publicados entre 1913 e 1952, ano de sua morte —, Paul Éluard tornou-se conhecido principalmente pela sua poesia surrealista. O poeta formou-se num momento extraordinário da vida cultural francesa. Conviveu intensamente com poetas como André Breton e Louis Aragon e uma esfuziante plêiade de artistas plásticos como Picasso, De Chirico, Dalí, Magritte, Miró, Man Ray e Chagall.

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Marjorie Salu

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Marjorie Salu
Temas: Paul Éluard

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