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Padilha vs Padilha

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br )

Sou de um tempo em que se um adulto andasse na rua sem a carteira do Trabalho assinada, era preso por vadiagem. Hoje vivemos o avesso: na Era Lulista, o PT-governo dá bolsa para vagabundos e moradores de rua, e até, como ocorre na capital de São Paulo, drogados recebem cachê e traficantes de drogas usam crachá da Prefeitura…

O Rio era capital da República. A cidade, bem policiada, vivia um clima de segurança e assistíamos uma vigorosa repressão à ociosidade, às drogas, à prostituição e aos atentados ao pudor público.

Foi quando surgiu uma figura curiosa, titular da Delegacia da Vadiagem, insensível, intransigente e arbitrário: Deraldo Padilha. O delegado era temido pelos criminosos, cafetões e malandros; ficou tão famoso que inspirou o samba de Moreira da Silva “Olha o Padilha!”. Tornou-se popular.

Carlos Lacerda, governador da antiga Guanabara, deu-lhe a tarefa de disciplinar o trânsito carioca e coibir as facilidades das propinas e ao favorecimento dos “sabe com quem está falando?”.

A imprensa criticava o delegado Deraldo com fortes ataques, até que ele foi para a geladeira, sem comando na polícia civil. Voltou em 1968 para a Delegacia do Trânsito e no mesmo ano foi aposentado e cassado pelo AI-5, por repreender a mulher de um general que cometera infrações.

Como vivemos a época do avesso, da impunidade epidêmica, da amoralidade triunfante, da corrupção tolerada e até premiada, surgiu outro Padilha, o Alexandre, que assumiu o Ministério da Saúde por ser petista e amigo de Lula da Silva.

Sentindo-se sob os holofotes da mídia, foi entrevistado por Jô Soares declarando-se “Especialista em Infectologia”, título que não consta nos registros das entidades responsáveis.

Convocado pelo Conselho Regional de Medicina do Pará para responder a processo ético, Alexandre Padilha apresentou diploma da USP, título que teria sido “fabricado”, por incoerência das datas no documento e a contradição de haver sido assinado por coordenadores de 2004 e não pelos de 2001, no período alegado.

Foi um bom começo para conquistar o lulo-petismo. Hoje é pré-candidato a poste de Lula em São Paulo, para o governo estadual, com a mesma coerência dos mal-feitos sempre presente na esfera do petismo.

A Polícia Federal em relatório da Operação Lava-Jato cita-o junto aos companheiros André Vargas e Candido Vaccarezza, por envolvimento com um doleiro preso, Alberto Yousseff.

Seu codinome (Pad) está gravado nas conversas entre Vargas e Yousseff. Nas mensagens interceptadas, Vargas diz ao doleiro: “Falei com Pad agora e ele vai marcar uma agenda comigo”; e, em outro telefonema, indica um executivo para a Labogen, laboratório-fantasma do doleiro, que servia à lavagem de dinheiro. E alerta: “Foi Padilha que indicou”.

O “executivo” apadrinhado é Marcus Cezar Ferreira da Silva que foi assessor de Padilha num fundo de pensão controlado pelo PT e trabalhou na campanha de Dilma. Na Labogem, encontra-se com o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro de Collor, que a PF descobriu ser sócio oculto de Yousseff no fraudulento laboratório.

Em nota, o ex-ministro Padilha nega que tenha indicado alguém para a Labogen e que seu nome foi usado indevidamente por André Vargas. “Ser ou não ser”, é a questão. O pessoal de Lula, e ele próprio, negam todas as acusações e na impossibilidade de fazê-lo, apelam para fórmula mágica, “eu não sabia”.

Há mais trocas de comunicações e recados de André e Yousseff. Uma delas, o doleiro diz: “Achei que você estivesse aqui na casa do Vacareza”, e André: “Estou indo”. E mais, Yousseff pergunta se André tem acesso a um superintendente da Caixa Econômica Federal.

Continuando a conversa sobre transações na Caixa, os dois contraventores combinam de participar juntos a encontro com um representante da Funcef. Vargas avisa depois que não poderá ir, e manda Yousseff sozinho à sede da Funcef. Então, Yousseff pergunta se pode usar o seu nome, e Vargas, diz que “sim”. Após a reunião, Yousseff passa um informe a Vargas: “Acabei de ser atendido. Falo depois com você como foi…”

Com a narração desses acontecimentos, constatamos que temos dois padilhas… Padilha vs Padilha. Um irascível cumpridor da lei e moralista extremado; outro suspeitosamente envolvido em velhacarias e extremista. Oh, tempos, oh, costumes.

Miranda Sá

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