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O TEMPO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O tempo é relativo e não pode ser medido exatamente do mesmo modo e por toda parte” (Einstein)

Muitos anos atrás fiz uma reportagem sobre a previsão de chuvas no Nordeste com os chamados “profetas” dos sertões. Encontrei um deles que revelava a chegada da temporada de chuvas pelo rastro de caracóis na pedra. Muito tempo depois descobri que em certa região dos EUA um mamífero roedor que existe por lá, a marmota, prevê o fim do Inverno.

Foi no filme “Feitiço do Tempo”, que traz a narrativa da cobertura jornalística do Dia da Marmota, evento em que o animal meteorológico faz seu prognóstico. A cobertura de um arrogante repórter, que vive uma trama inusitada: acorda toda manhã sempre no mesmo dia, que recomeça levando-o a viver episódios que lhes servem de lição e que terminam humanizando-o.

A fita é uma comédia chapliniana que nos faz rir pela crítica às crendices, irreverência, malícia e humor negro. Mais do que entretenimento, “Feitiço do Tempo” leva à reflexão sobre o correr das horas, dos dias, dos meses, e dos anos…

Guilherme Coral faz uma excelente crítica do filme comparando-o com a passagem do tempo na vida real, encontrando as mesmas características de aventura, agressividade, conquista, desânimo, desfrute, drama, entrega, experiência acumulada, otimismo e romantismo.

Aí descobrimos uma verdade que não pode ser escondida: o tempo escancara as portas do conhecimento e fortalece a liberdade individual de pensar. E sem uma escala fixa para o sentimento, como o nosso Machado de Assis evoca: “Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos.”

Machado desmistifica também a tradição mitológica que apresenta o Tempo como um velho de barbas brancas. Para ele é justamente o contrário, o Tempo é um “rapagão ágil, esperto, que sabe das coisas e o que fazer sobre elas…’

É esse jovem personagem que nos mostra a desarrumação do País que herdamos dos governos lulopetistas. Nos revolta com a notícia de que agentes graduados dos poderes públicos, com direito de legislar, judiciar e administrar, criticam e querem sustar as investigações da Receita Federal de seus dados fiscais, tributários e bancários, como ocorre com todos os demais cidadãos.

Os revoltados não se dão conta de que devem respeitar a Lei, para serem respeitados pelo povo, porque, ou atendem e respeitam o princípio constitucional de que “todos são iguais perante a Lei” ou assistirão à decomposição do que faz a essência da vida nacional.

Se o “andar de cima” pretende manter, além do famigerado foro privilegiado a blindagem para as suas relações éticas com o Fisco, dão um péssimo exemplo para a Nação, sem moral para condenar as corporações que se emparceiram para sabotar as mudanças da Previdência Social, caminho único para garantir os benefícios futuros.

O problema previdenciário não ocorre somente no Brasil, mas aqui, sem dúvida, foi agravado pela irresponsabilidade da politicagem eleitoralista dos governos que cederam e cedem aos grupos de pressão organizados, benesses com a contribuição previdenciária.

A História registra que os malefícios da Previdência não são de origem. Pelo contrário, os institutos de previdência foram criados com o maior cuidado e boa intenção, e funcionavam bem atendendo seus propósitos. Desgraçadamente foram contaminados pela infiltração da pelegagem sindical que os aparelharam e corromperam.

Para romper o vicioso comprometimento dos pelegos, o regime militar sem um estudo aprofundado e de forma apressada, criou o sistema único (INSS) impossibilitando a vigilância dos contribuintes, como ocorria nos tempos em que cada categoria tinha o seu próprio instituto.

Espero que o Tempo, personificado por Machado de Assis como um jovem, seja um esportista. Que se mova com rapidez e pratique artes marciais, capoeira, jiu-jitsu, karatê, vale-tudo, todas, para pôr em nocaute as marmotas inúteis que querem manter a Previdência no tempo em que está, sem se preocupar com o futuro do Brasil.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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