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O SORO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Os artistas usam a mentira para revelar a verdade, enquanto os políticos usam a mentira para esconde-la”. (“V” de Vingança)

Comentando outro dia sobre a compulsão psicótica de Bolsonaro em mentir, um dos meus seguidores sugeriu que os militares que participam do seu governo deveriam ministrar-lhe Pentotal, para arrancar dele a verdade e desobrigar-se de cumplicidade com os desatinos dele.

Fazia muitos anos que ouvira falar em Pentotal e não me lembrava mais o que seria; fui ao dicionário e encontrei: “Pentotal”, substantivo masculino que define uma substância tiobarbitúrica para indução anestésica, aplicada com injeções intravenosas. Foi (e não sei se ainda é) usado para obter revelações de suspeitos pela prática criminosa.

Na intenção de obter-se sob o seu efeito revelações guardadas em segredo, o Pentotal é chamado de “soro da verdade”, do inglês (truth serum); nasceu de uma experiência feita em 1915 pelo médico norte-americano Robert House. Obstetra, o dr. Robert observou que mulheres anestesiadas em trabalho de parto falavam espontaneamente sobre assuntos íntimos.

A partir de então, várias substâncias entorpecentes e sedativas passaram a ser utilizadas em pacientes de quem se esperava transparecer coisas que escondiam; entretanto a maioria dos indivíduos sob efeito do Pentotal apresentavam mais alucinações do que propriamente a realidade que se esperava colher.

Relatos obtidos dos pacientes sob ação do soro evocavam fantasias indistintas entre a veracidade ou simplesmente mentiras próprias de maníacos obsessivos; fez-se outras experiências como substituto do “soro da verdade” – pelo menos nos EUA -, o ecstasy, a maconha e o LSD, mas os resultados foram idênticos.

É triste constatar isto, porque não adiantaria incluir o bando doentio de fanáticos que aplaudem e seguem o Mitômano que ocupa a presidência da República e raramente expressa a verdade; e vimos  que na pandemia do novo coronavírus ele multiplicou neuroticamente essa incontida repulsa pela realidade.

Daí, em apoio às mentiras presidenciais procedem dos porões do Palácio do Planalto para uso dos agentes governistas, argumentos infectados de esquizofrênica convicção no que o Chefe diz, como se vê na defesa dos remédios ineficazes prescritos irresponsavelmente por ele.

Os cultuadores fanáticos do Presidente (são poucos, mais atuantes) chegam ao extremo ridículo de manifestar pelas redes sociais que as pessoas estão morrendo só para botar a culpa do negacionismo presidencial…. Este desvario alucinado expressa uma criminosa cumplicidade com o genocídio que provocou no País 270 mil mortes pela covid-19.

Fruto da ignorância e desprezo pela Ciência, o negacionismo apareceu no Brasil – sempre é bom repetir –, graças à subserviência enfermiça de Bolsonaro ao ex-presidente Donald Trump, quando este desprezou a pandemia e quase levou os Estados Unidos ao colapso.

O mesmo ocorreu e se mantem ampliando-se entre nós. Fala-se no Congresso em convocar uma CPI da Pandemia para investigar as responsabilidades. Seria como aplicar o soro da verdade nos responsáveis pelos casos e fatos deploráveis que acontecem do Oiapoque ao Chuí.

Porém pela legislação vigente, nenhuma pessoa é obrigada a apresentar provas contra si; o que deixa à disposição dos acusados o direito de mentir; e que o ônus da prova cabe somente ao acusador.

Assim, a injeção de Pentotal para induzir a confissão de um crime é considerada por muita gente como uma forma de tortura. Dizem até que consta do direito internacional privado; mas não encontramos esta referência.

Dessa maneira, como se pode condenar um delinquente negacionista que manda o povo enfiar “no rabo” as máscaras de proteção?  Condenando-se o soro da verdade, livra-se de serem punidos pela Justiça dos homens muitos desses facínoras, o que nos faz raciocinar como Tomaz de Aquino: – “A verdade que deveria libertar-nos, aprisiona-nos”.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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