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O inimigo ideal

O fim da era Bush deixou viúvos os arautos da bondade. Fazem uma falta danada essas quatro letrinhas com som de explosão. A quem culpar agora pelos males do mundo?

O clima é um bom candidato. Um flagelo meio difuso, que permite apontar o dedo contra o capitalismo, os poderosos, a indústria, o automóvel, os EUA, os insensíveis e os mal-encarados.

Serve também para o Bono Vox, o Sting e toda uma turma boa de artistas nacionais e estrangeiros retocarem suas imagens – sem terem que fazer absolutamente nada. O clima é uma mãe.

Mas agora está surgindo, com o rolo de Honduras, outro vilão bem jeitoso. É o Conselho de Segurança da ONU.

Como se sabe, o Conselho de Segurança da ONU não segura nada. Nunca segurou. Paz é paz, guerra é guerra, mandam os mais fortes e a ONU diz amém. Basta ver os malucos à solta na Coréia do Norte, no Irã e outros paraísos nucleares clandestinos. Mahmud Ahmadinejad acaba de anunciar que o Irã vai mandar mais uns petardos atômicos. Está liberado.

Agora o Conselho de Segurança é o culpado da crise em Honduras. Lula fez o seu teatro, e os bonzinhos foram atrás.

Se o Brasil acha que pode segurar a onda dos golpistas vizinhos, vá em frente. Mas não vale choramingar na saia da ONU, ou do Papa. Isso é mentira.

Lula atacou o Conselho de Segurança fazendo coro a ninguém menos que o ditador líbio Muamar Khadafi, a quem o presidente brasileiro já classificou de democrata. O tarado do Irã que vai disparar mais uns foguetinhos de plutônio é chapa de Lula. O brasileiro não economiza afagos e fotografias sorridentes a seu lado.

Mas a culpa é do Conselho de Segurança da ONU.

A crise em Honduras pode acabar bem, se Deus quiser (se não quiser, será culpado também). Mas o fato é que está fora de controle, com a embaixada brasileira transformada em casa da mãe Joana, por dentro e por fora. Foto de Lula arrancada da parede, militantes pró-Zelaya dizendo quem entra e quem sai, golpistas atirando veneno pela janela.

O governo brasileiro quis entrar nessa guerra? Então honre a sua embaixada. Reforce-a, fale grosso com os delinqüentes.

Não dá para ficar a vida inteira no palanque escolhendo vilões confortáveis.

Guilherme Fiúza, jornalista e cineasta

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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