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O BEM E O MAL

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“A maturidade do homem consiste em haver reencontrado a seriedade que tinha no jogo quando era criança” (Nietzsche)

A humanidade desde os seus primórdios vive uma guerra entre o bem e o mal, e isto não depende do ponto de vista de cada um; é inexorável este choque na política e fundamentalmente na religião.

Na política, a sociedade assistiu historicamente em todo mundo a opressão de déspotas e ditadores, a divisão de classes, a escravatura e a servidão. Até onde se conhece, os males e o enfrentamento do bem das antigas nações, têm essa realidade gravada em argila, na madeira, no metal nos papiros e na pedra.

Há também registros primordiais em todas as religiões estudadas e conhecidas da luta incessante do bem contra o mal.

O mais expressivo exemplo vem da mitologia persa com a competição de Ormuz, o deus do bem, contra seu irmão gêmeo, o deus do mal, Arimã. Este quadro é descrito no livro sagrado do mazdeísmo, o Zend-Avesta, escrito por Zaratustra.

De lá para cá, tanto as religiões politeístas como as denominadas grandes religiões monoteístas apresentam este confronto mitológico, sendo que o judaísmo e o cristianismo veem Deus punindo e combatendo Lúcifer.

E parece que há um DNA da memória que revive em todas as cabeças o conflito do Bem contra o Mal. É generalizado na cultura de todos os povos; na filosofia e na literatura mundial, nos romances, na poesia, no teatro. Dos contos às novelas. E até na música.

Encontramos na filosofia grega, tanto em Sócrates como em Platão, o pensamento que coloca o choque do bem contra o mal, no caráter da pessoa. O primeiro ensinou que “Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância” e seu discípulo foi mais além, dizendo que “Não há nada bom nem mau a não ser estas duas coisas: a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal”.

No cinema é expressiva esta luta. Pulando sobre as produções de fundo introspectivo, o modelo mais do que perfeito está nos filmes de faroeste, do mocinho contra o bandido. No bang-bang incessante vê-se a peleja do bem contra o mal.

Também nas histórias em quadrinhos. Eu tive a felicidade de ter a permissão dos meus pais de ler gibi, o que era proibido na minha infância e adolescência para os meus colegas. Neste tipo especial de arte – na composição, no desenho e na mensagem – hoje se reconhece tratar-se de uma produção talentosa de artistas.

No conjunto de texto e na forma, a qualidade das histórias em quadrinhos abrange todos os gêneros; da comédia à tragédia, com realismo ou ficção. Temos até o lado ingênuo, cujo exemplo é do brasileiro Mauricio de Sousa com a sua notável produção da Turma da Mônica.

Nos gibis mais populares, o bem e o mal andam lado a lado e segundo o estudioso da matéria, Marcelo Paiva, “a linha entre um e o outro é muito tênue”. O herói e o anti-herói se combatem, um defendendo a humanidade com altruísmo e o outro querendo dominá-la com um bando de bandidos.

Estamos vivendo no Brasil este combate, tipo Batman contra Lex Luthor, Super Homem contra os exilados de Kripton e Capitão América contra o nazismo…  De um lado os que defendem a Constituição e que se faça uma Justiça Boa e Perfeita; do outro lado uma falange de corruptos.

E não resta dúvida, que o conhecimento da realidade mostra que os bons, que defendem o bem, não têm bandidos de estimação, enquanto os maus, que ficam com o mal, fazem dos bandidos seus heróis.

Marjorie Salu

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