Categorias: Artigo

HERANÇA MALDITA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Há quem defenda os seus erros como se estivesse a defender uma herança.” ― Edmund Burke

Um filme de ficção científica lançado em 1996 sob a direção de Kevin Yagherdez fez muito sucesso entre os apreciadores de fitas de terror, contando a história de um cientista do século 22, que assumiu ações de um antepassado responsável que abriu as portas do inferno.

Nas madrugadas de suas insônias produzidas pela enganação, espiroquetagens e até crime, Lula da Silva deve ter assistido a película lembrando-se dela para metaforicamente usar contra seu ex-amigo Fernando Henrique Cardozo na reação natural da criatura contra o criador…

Assim falou-se muito de “herança maldita” no primeiro – e até no segundo governo Lula, que herdou o Plano Real, uma economia organizada, normalidade democrática e relações internacionais favoráveis.

Nem todas heranças são malditas… Dicionarizado o vocábulo é um substantivo feminino originário do latim, ‘haerentia’, que representa os princípios jurídicos que garantem a transferência de um patrimônio de um morto aos seus descendentes. É o direito de receber ou garantir bens por via de sucessão, um patrimônio transferido de alguém para alguém.

No Direito Civil, que estuda as sucessões, a herança é todo o bem material, direito ou obrigação passados de uma pessoa que morre para os seus sucessores (herdeiros ou legatários) através de testamento.

Assiste-se no Brasil no tabelionato da política a transmissão de uma herança da presidente Dilma que sofreu um impeachment pela vontade da ampla maioria dos cidadãos e cidadãs, numa tramitação que obedeceu a todos os trâmites legais e constitucionais. A herança que deixou nos concede um bem político-econômico que começa pelo apego ao poder e o inconformismo por sua derrubada.

Do seu patrimônio de inconsequências, irresponsabilidades e malfeitos propagados em todos os setores da administração pública, a mentira é o mais desastroso patrimônio político. Esta parcela abrange a incoerência de enfrentar os poderes Judiciário e Legislativo que avalizaram o seu afastamento da presidência da República, chamando-o de ‘golpe’.

A partir daí, todos os elementos testamentários de Dilma chegam às raias do absurdo. Primeiro, baixou atos durante o processo a que se submeteu, com concessões a seus apaniguados que fazem corar um frade de pedra e Rui Barbosa tremer no túmulo.

Vem depois efeitos desastrosos que contrariam o bom senso, para não dizer crimes contra o País. Tivemos nos primeiros dias do seu sucessor na interinidade, Michel Temer, a revelação de que alterou – mais uma vez – a meta fiscal deste ano acarretando um rombo de até R$ 170,5 bilhões nas contas do governo central, equivalente a 2,75% do Produto Interno Bruto.

Conforme os novos titulares da área econômica do Governo Federal este desfalque abrange fraturas no Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social. Este procedimento irresponsável é indigno de um chefe da Nação.

Temos aí, então uma autêntica “herança maldita”. Irrefutável; e, diante disso, obriga seus substitutos a fazer remendos, preparando uma nova meta fiscal. O ministro da Fazenda perseguindo o retorno da credibilidade ao governo fala que “Existe margem para incerteza, mas é uma meta realista e dentro de critérios rigorosos e mais próximos do que hoje está sendo estimado pelo mercado”

As heranças são irrecusáveis e a lembrança deixada por Dilma abala os alicerces da economia e fatalmente recairá sobre todos os brasileiros. Não sei se juridicamente haverá condições de recusar esse donativo verdadeiramente criminoso.

Dilma e seus asseclas continuam defendendo seus crimes e a herança desgraçada que deixaram; quanto ao presidente Temer, tentará envolver os outros testamentários do Congresso Nacional entregando aos congressistas a proposta de alteração da maligna meta fiscal herdada, buscando amenizar os efeitos destrutíveis da maldição lulo-petista.

Esperamos que na suas ações, o presidente Temer afaste – entre as medidas amargas que por certo virão – a ideia de ressuscitar a CPMF ou aumentar os impostos que já são considerados os mais altos do mundo.

Marjorie Salu

Compartilhar
Publicado por
Marjorie Salu

Textos Recentes

FALANDO GREGO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) Clássico é clássico; não foi por acaso que Shakespeare criou expressões que…

13 de outubro de 2025 18h05

DAS PAIXÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor…

8 de outubro de 2025 8h55

DAS PROIBIÇÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Na ditadura militar que durou de 1964 a 1979 censurando a expressão do pensamento, cantou-se a…

30 de setembro de 2025 18h41

Augusto Frederico Schmidt

As chuvas da primavera Em breve virão as chuvas da Primavera, As chuvas da primavera Vão descer sobre os campos,…

25 de setembro de 2025 20h00

DE MURMÚRIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Só ouvi a palavra “Murmúrios” em letras de boleros e tangos. É visceral; o seu intimismo…

24 de setembro de 2025 12h03

Marina Colasanti

Outras palavras Para dizer certas coisas são precisas palavras outras novas palavras nunca ditas antes ou nunca antes postas lado…

21 de setembro de 2025 20h00