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DO IMPOSSÍVEL

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br.)

Lembro-me do pensamento, mas esqueci a origem e o nome do autor que deve ter sido um realista escrevendo que “o impossível é aquilo que acontece todos os dias”. É um prêmio da Loteria que sai para alguém, ou a prisão de fugitivos da Penitenciária de “Segurança Máxima” de Mossoró depois de 50 dias de buscas interrompidas….

A palavra Impossível dicionarizada é um adjetivo de dois gêneros e substantivo masculino, que o “Oxford Languages” define como aquilo que não pode ser, existir ou acontecer, trazendo o esdrúxulo exemplo “nascer um cavalo de uma galinha”. O nosso idioma herdou do latim “impossibĭle”, significando que não é possível; que não pode existir; que não pode realizar-se.

Há, porém, exemplos históricos desmentindo o irrealizável. Meus amigos que amam o Teatro possivelmente considerarão impossível o que a História nos conta sobre Shakespeare que sem condições pecuniárias de encenar um castelo, botava um cartaz no palco escrito; “isto é um Castelo”.

O matemático holandês Ludolph van Ceulen, que acrescentou ao famoso “Pi” algumas das suas relações decimais já calculadas, perseguiu mais uma, sem conseguir encontrá-la para juntar às outras 35 já conhecidas.  Julgou ao fim da vida ser incalculável o acréscimo; seis anos após sua morte estudiosos ingleses acharam o número 707.

Na década de 1940, quando meninos assistíamos a série Flash Gordon, com foguetes, telefones celulares no pulso à guisa de relógio, e interlocuções por vídeo em telas, achávamos inacreditável que viesse a ocorrer. A Televisão já fora inventada, foguetes foram ejetados na guerra  e levou somente 30 anos para o celular aparecer….

Os cristãos autênticos jamais imaginaram a distorção das palavras de Jesus o Mestre da Galileia. Suas parábolas sublimes ao nível popular foram mais tarde ocultas pelo latim, uma língua morta, usada pela Igreja Católica Imperial. Hoje, o papa Francisco, falando a linguagem do povo, promove avanços sócio-políticos que eram julgados como difíceis no Vaticano.

Assim se desmente o sentido da eternidade. Não são eternos os nossos entendimentos, as celebridades, as investigações científicas, nem os cânones burocráticos de uma religião.

Registra uma historieta hollywoodiana que a 20th Century Fox homenageou a atriz Greta Garbo mandando cunhar uma medalha de ouro com o perfil dela com o lema “À Glória Eterna”. Uma das minhas filhas, a que está comemorando 44 anos de idade, não sabe quem foi Greta Garbo….

Sobre o cinema, lembro que disseram que colapsaria com o surgimento da televisão; na verdade, as salas de exibição definharam; mas os produtores cinematográficos logo se adaptaram, levando os filmes para a telinha, que virou telona e manteve a arte mais viva do que nunca. O impossível aconteceu.

O incogitável também fraquejou com o Vaticano deixando de lado o Index Proibitório, que impedia a leitura de livros e punia os seus autores até com a excomunhão. Hoje, repetimos sem temor a frase de Oscar Wilde: “Não existem livros morais ou imorais. Os livros são bem ou mal escritos”.

No Brasil atual, os políticos mostram inconfessáveis extravagâncias, avanços no Erário e o desprezo pelo futuro do Brasil e das gerações vindouras. Mas não será para sempre. O genial Maquiavel, estudioso da política, previu isto, escrevendo n’ “O Príncipe” que tudo o que tem começo, tem fim.

Então, que não dure uma eternidade o final da desgraçada polarização entre Bolsonaro e Lula, populistas corruptos auto assumidos fraudulentamente como “de direita” e “de esquerda”.

Como ambos usam a religião para ludibriar. Lembramos aos cristãos seus seguidores a frase bíblica do livro de Lucas, capítulo 1, versículo 37, enfatizando que só a divindade tem a exclusividade de realizar qualquer coisa; lá está escrito: “somente para Deus nada é impossível”.

Marjorie Salu

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