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DA MENTIRA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

O título vem numerado porque já abordei outras vezes este tema; perdoem-me o teologismo sectário e a fé inocente dos justos, lendo-me a confissão de que não creio nas religiões, considerando-as as mães da Mentira.

Respeito os que adoram, cantam e louvam o deus barbudo de olhos languidos (geralmente azuis) uma imagem de homem em sacrifício…. Mas vejo nos primitivos mais verdade, adorando o sol na claridade do dia e louvando as estrelas no negro espaço da noite. É a energia universal a minha concepção de Deus, como viram Spinoza e Einstein.

Não posso crer que o deus egípcio Osíris, assassinado e esquartejado pelo irmão Set e teve o corpo recomposto pela esposa Ísis? É-me impossível acreditar que o Homem foi feito de barro e a mulher da sua costela! Não admito que uma loba alimentou Rômulo e Remo, fundadores de Roma e aceitar a infalibilidade dos papas….

Também não creio em pesquisas. Como profissional de imprensa, fui contratado e trabalhei em duas delas; aprendi então que basta que se queira e não é preciso falsificar números nem fraudar estatística; só estabeleça o universo da inquirição. Daí, a pesquisa limitada a um espaço e à frequência das pessoas, o resultado que se espera virá como se quer.

É assim que a Mentira, como as pesquisas e os livros “escritos por deus”, não precisa se fantasiar de verdade para frequentar os poderes republicanos, as igrejas e os partidos; e nesse avesso carnaval, saio no bloco de Afonso Romano de Sant´Anna, cantando como ele que: “De tanto mentir tão brava/mente constroem um país de mentira diaria/mente”.

Nesse cenário momesco recordo um texto de Anatole France transcrevendo uma milenar lenda chinesa para assistir ao desfile de “um gênio feioso, de cabeça grande e grandes olhos habita cavernas escuras, vagueia pelas noites em busca do prazer que consiste em divertir-se às custas dos mortais; a sua diversão é penetrar nas moradias e abrir cirurgicamente o crânio dos dorminhocos.

A operação se realiza com a extração do cérebro da pessoa, trocando-o pelo de outra; assim, percorre pelas cidades repetindo várias vezes a proeza. Ao amanhecer, volta para o subterrâneo e se alegra por saber que o militar acordará com o misticismo de um monge, a devassa terá o pudor de um virgem, os magistrados farão a justiça dos santos; o político despertará puro como um eremita e o moralista sofrerá a fissura de um drogado.

Reconto esta historieta lembrando que anteriormente gravei uma pergunta que me saiu da cabeça: – Já imaginaram se este gênio gozador se materializasse no Brasil e saísse fazendo o troca-troca de mentalidades?

Feito o transplante de cérebros, veríamos os picaretas do Congresso Nacional assumindo o papel de legisladores patriotas pensando na Nação; os togados do STF ministrando Justiça boa e perfeita condenando ladrões do dinheiro público, e os donos das legendas partidárias e pelegos sindicais dispensando dinheiro público, cobrando da militância das entidades o pagamento do seu trabalho.

Sem ser muito exigente, gostaria de ver o gênio cabeçudo fazendo o empresariado criar empregos com justa remuneração e intelectuais pensando um futuro promissor para as novas gerações….

O que faria o cirurgião fabuloso de cérebros visitando a fraudulenta polarização armada pela imprensa mercenária que cozinha a sopa de letrinhas dos partidos com o tempero da baba dos fanáticos cultuadores de personalidades Bolsonaro e Lula? São os dois, pra vergonha alheia, campeões da mentira, sempre prontos para se alternar no poder e servir ao sistema que reconheceram no Congresso, ao apoiar os picaretas do Centrão.

Eleger Alcolumbre e Motta foi uma manifestação explícita em favor do nojento orçamento secreto e ainda mais repugnantes as emendas parlamentares, ambos expostos no balcão de negócios sujos da politicagem.

Assim se mantém o vício corruptor das mamatas e dos privilégios pagos pelos imorais fundos partidário e eleitoral; e assim sobem ao palanque levando a Mentira discursiva: Lula com a treta descarada da “democracia relativa” em defesa da ditadura Maduro; e o outro, Bolsonaro, ávido por dinheiro como assistimos no caso das joias entrando clandestinamente no país.

A verdade é que não existe nem democracia nem honestidade relativas; são, na verdade, meias-mentiras, o caminho certo para se chegar à Mentira.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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