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DA LIBERDADE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Mal terminara a 2ª Grande Guerra, em 1946, meu pai levou-me para assistir na ABI (onde mais tarde, com muito orgulho, fui conselheiro em quatro mandatos) uma conferência do jornalista, escritor e orador Austregésilo de Athayde.

Austregésilo foi dirigente dos Diários Associados, com importante participação na Revista “O Cruzeiro” e recebeu o Prêmio Maria Moors Cabot, o Oscar da imprensa norte-americana.

O conferencista chegara a pouco dos Estados Unidos e relatou a sua estadia lá, impressionando-me ao contar que, convidado para um almoço e com o hábito de acordar cedo, fez hora visitando várias igrejas católicas e protestantes dos arredores, assistindo repetitivos sermões dos padres e pastores.

Estes pregadores cobravam dos fiéis a obrigação de defender a Liberdade. Não só a liberdade de culto, de expressão do pensamento e do jornalismo. De todas as liberdades. Curioso, durante a refeição ele perguntou aos convivas se havia alguma ameaça contra a Democracia no país.

À unanimidade, todos responderam que a defesa da Liberdade não pode ser esquecida; deve sempre ser lembrada, em todo lugar e a qualquer hora. Naqueles dias eu tinha 13 anos; mais tarde encontrei este alerta com Jean Jacques Rousseau: “Povos livres, lembrai-vos desta máxima: A liberdade pode ser conquistada, mas nunca recuperada”.

Como o filósofo libertário, pensaram assim respeitáveis personalidades da História, da Poesia, da Política e da Religião. Assim pensaram os autores do Hino da Proclamação da República, o jornalista Medeiros e Albuquerque e o compositor e maestro Leopoldo Miguez, enchendo de brio as nossas cabeças com o refrão “Liberdade! Liberdade!/ Abre as asas sobre nós!”.

Como o materialista Bakunin, sou um amante fanático da liberdade, e como o pregador cristão Martin Luther King, acho que para satisfazer a sede de liberdade devemos afastar o cálice da amargura e do ódio.

O problema é que a ciência política está vendo a humanidade ser ameaçada pelo totalitarismo ditatorial, mascarado de “Democracia Relativa” ou “Democracia Efetiva”, adjetivando e negaceando o valor que a autêntica liberdade oferece.

A liberdade com responsabilidade, que a “Tribo do Bem” vem praticando nas redes sociais, ocupando o lugar da imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta que segundo Joseph Pulitzer forma “um público tão vil como ela mesma”.

A Web oferece à cidadania as armas destinadas a defender ideias, o interesse nacional e o sonho de liberdade. Os fascistas de hoje, que se assumem como antifascistas, e os políticos, magistrados e formadores de opinião que relativizam a Democracia, aparecem intimidando o “X”, o You Tube e outras ferramentas da opinião pública.

Poeticamente, a divina Cecília Meirelles escreveu que “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”; e o supremo crítico da autocracia opressora, George Orwell é curto e grosso: “Se a liberdade significa alguma coisa, é sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir”.

A voz do povo – que é a voz de Deus – se expressou em 1989 no magnífico samba-enredo da Escola Imperatriz Leopoldinense; composto por Niltinho Tristeza, Preto Joia, Vicentinho e Jurandir, que Dominguinhos do Estácio, cantou: “Liberdade! Liberdade! / Abre as asas sobre nós! / E que a voz da igualdade/ Seja sempre a nossa voz”.

Tudo por uma Liberdade sem adjetivos. Afirmemos com Rosa de Luxemburgo que “Liberdade somente para membros do partido e do governo, não é, de modo nenhum, liberdade”.

Marjorie Salu

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