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CUSTOMIZAR

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Crie seu próprio estilo visual… deixe-o ser único para você e, contudo, identificável para os outros” (Orson Welles)

Dos novos vocábulos que entraram no Dicionário da Língua Portuguesa sem bater à porta, tem um que gostei muito: “Customizar”. Este verbete é um verbo transitivo direto de origem inglesa “to customize”, que deu no adjetivo “custom” que para os norte-americanos significa “feito sob a encomenda”, “elaborado sob a medida”.

A palavra ganhou o mundo, expressando a reciclagem que leva a adaptar, modificar, transformar, alterar, mudar, reformar. Pessoas que cuidam do vestuário adoram bolar o reaproveitamento de roupas usadas.

Eu e minha mulher quando casamos inventamos adaptar as sandálias havaianas com lantejoulas e vidrilhos como acessório praiano. Péssimos comerciantes, nada ganhamos com isto, presenteamos as sobras com pessoas amigas.

Entretanto a customização pegou no mercado da moda, adequando vestidos e camisas de acordo com o gosto do freguês; hoje rasgando-as para parecerem como fizeram os hippies no século passado…. E entrou na informática pela adaptação de usuais costumes do usuário.

Customizar, como modificação e mudança, deveria entrar na política. Não sei se veremos isto no Reino Unido, após a morte da rainha Elizabeth 2ª e a assunção ao trono pelo príncipe Charles; mas no Brasil, tenho certeza, se ganharem a eleição Bolsonaro ou Lula, apenas teremos a adaptação do Centrão ao poder e a picaretagem dos corruptos se customizará.

A História mostra que na Grã-Bretanha as coisas sofrem necessariamente conversões e mutações. Lembro a passagem em que Churchill escolheu o “V” com os dedos da mão direita para simbolizar a vitória contra o nazi-fascismo e sofreu protestos de conservadores na Cornualha que consideraram a marca dos chifres do diabo.

A imensa maioria dos ingleses, porém, aceitou e usou a mímica do Primeiro-Ministro, que se espalhou mundo como ícone anti-totalitário.

Também entre nós nada é mais customizável do que a política brasileira. Uma figura notável das Minas Gerais, Magalhães Pinto, viu isto e divagou: – “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou…”

O triste é que essa costumização da política tupiniquim vai sempre para a pior moldagem; ajusta-se sempre aos interesses pessoais ou grupistas, principalmente como forma de corromper ou ser corrompido. Lembro meus tempos de menino ouvir Carlos Lacerda verberando contra os “corruptos e corruptores”.

Em verdade a coisa vem de longe, embora tenha sido institucionalizada nos governos lulopetistas e adotada pelos sucessores com as rachadinhas, os cheques suspeitos, a tentativa de compra de vacinas e as propinas dos pastores no Ministério da Educação. Nem vou falar da “Imobiliária Bolsonaro” que é manchete dos jornais.

Customizar para personalização dos detentores do poder é, sem dúvida, o estilo populista de governar e mais do que o prejuízo imediato sofrido pela Nação, sabe-se que o  populismo é o fascismo de fralda.

E por falar em fralda, sugiro que elas sejam customizadas em Brasília para cumprir o que escritor e pensador português Eça de Queiroz repassou inteligentemente: – “Os políticos e as fraldas devem ser trocados sempre pelo mesmo motivo”. Por isto apelamos para a criatividade do eleitor inteligente customize as fraldas políticas bordando-as com a negação do voto aos populistas corruptos.

Espero que um estalo leve ao brasileiro honesto preferir um terceiro nome na hora do voto, levando-o ao segundo turno contra um dos polarizadores da “direita” e da “esquerda”.

Desta maneira, com certeza,  derrotaremos a corrupção, o ódio e a violência que grassaram entre nós como uma peste maligna, infelicitando as pessoas de bem e degradando a política.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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