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CINZAS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Lembra-te, ó homem, que és pó
e em pó te hás de tornar”
(Genesis, 2,19)

Em todas as crenças conhecidas, das mais primitivas até as chamadas grandes religiões, há um período de jejum, abstinência de alimentos e de sexo. O catolicismo e algumas denominações evangélicas adotam a Quaresma, lembrando os 40 dias que Jesus passou no deserto suportando as tentações.

Espelhando-se na virtude do Cristo, os crentes se penitenciam refletindo o arrependimento pelos próprios pecados. Uma oração franciscana reza: “Reconhecendo que somos pó e que ao pó voltaremos, consigamos, pela observância da Quaresma, obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova, à semelhança do Cristo ressuscitado”.

A quarta-feira de cinzas, o primeiro dia depois do carnaval, dá início à Quaresma. A temporada de carnaval dura, teoricamente, quatro dias, denominados “gordos”; do sábado à terça-feira.

Em muitos países do mundo a festa carnavalesca ocorre somente na “terça-feira gorda”, e sob influência francesa, o Mardi Gras, chegou aos Estados Unidos e tornou-se famoso em Nova Orleans.

Ao fim numa ritualística emocionante, os altares se cobrem de roxo estimulando os beatos à contrição, pesando as próprias culpas.

Assim, o carnaval ficou para trás e inspirou o poeta Vinicius de Moraes o belíssimo poema cantado “Felicidade”: “A felicidade do pobre parece/ A grande ilusão do carnaval/ Aquele trabalha o ano inteiro/ Por um momento de sonho/ Pra fazer a fantasia/ De rei ou de pirata ou jardineira/ Pra tudo se acabar na quarta-feira”.

Pena que não haja na política brasileira uma quarta-feira de cinzas. A carnavalização partidária não se limita a um determinado período, estendendo-se anos a fio como assistimos e lamentamos na Era Lulo-petista.

O que se vê é a irresponsabilidade institucionalizada, a roubalheira desmedida, e o povo padecendo o desemprego, as carências na Educação, falta de assistência médica e insegurança. Testemunha-se um permanente desfilar dos blocos de organizações criminosas escarnecendo da sociedade.

Envergonhou-nos a revista inglesa ‘The Economist’ reportar que o “Brasil está ‘festejando a beira do precipício’”, apontando a incompetência e a corrupção, os problemas econômicos, sociais e políticos que vivemos às vésperas do carnaval.

Possivelmente a reportagem dará seguimento a essa falta de governantes sérios e a privação do povo. Faltando-nos uma imprensa realmente livre das influências do poder, os correspondentes estrangeiros também poderiam como do “The Economist” levar ao mundo o arrastão carnavalesco da política brasileira, a roubalheira e a impunidade.

A presidente Dilma e seu entourage de ministros, assessores, conselheiros dos andares superiores, e no térreo os puxa-sacos sem triplex e os lulo-petistas da geral, poderiam refletir sobre a Quaresma e o ”
Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris” – (Lembra-te homem, que és pó e ao pó voltarás).

E somente com a Presidente voltando ao pó de onde veio, o Brasil terá uma quarta-feira de cinzas política encerrando a irresponsável farra petista e restaurando o patrimônio nacional da Ordem e do Progresso.

Miranda Sá

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