Categorias: Poesias

CÉSAR VALLEJO

EPÍSTOLA AOS TRANSEUNTES

Tradução de Antonio Miranda

Renovo meu dia de coelho

minha noite de elefante em descanso.

E, para mim, digo:

esta é minha imensidade em bruto, a cântaros,

éste é meu grato peso, que me buscara debaixo para pássaro;

este é meu braço

que por conta própria recusou ser asa,

estas são minhas sagradas escrituras,

estes meus alarmados testículos.

Lúgubre ilha me iluminará continental,

enquanto o capitólio se apóie em meu íntimo deslize

e a assembléia de lanças clausure meu desfile.

Mas quando eu morrer

de vida e não de tempo,

quando cheguem a duas minhas duas maletas

este há de ser meu estômago em que coube minha lâmpada em pedaços,

esta aquela cabeça que expiou os tormentos do círculo em meus passos,

estes esses vermes que o coração contou em unidades,

este há de meu corpo solidário

pelo qual vela a alma individual; este há de ser

meu umbigo em que matei piolhos natos,

esta minha coisa coisa, minha coisa tremebunda.

Entanto, convulsiva, asperamente

convalesce meu freio,

sofrendo como sofro da linguagem direta do leão;

e, posto que eu existi entre duas potestades de ladrilho,

convalesço eu mesmo, sorrindo de meus lábios.

Biografia de César Vallejo aqui

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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