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CARNAVAL

Miranda Sá (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Ô Abre Alas/Que eu quero passar/ Eu sou da Lira,/ Não posso negar!” (Chiquinha Gonzaga)

Para falar do carnaval brasileiro é inevitável que a epígrafe deste artigo homenageie a compositora Chiquinha Gonzaga, com seu pioneirismo histórico. É uma das primeiras marchinhas de carnaval abrindo o tema da alegria com a sua explosão de comicidade e crítica política.

“Ô Abre Alas” é de uma época em que a liberdade de pensamento sobrepunha o cretino “politicamente correto”. Antecedeu e incentivou o que foi cantado pela massa de acobreados, amarelos, brancos, mestiços e pretos,  “Amélia”, “Alah-la-ô”, “Cabeleira do Zezé”, “Nega Maluca”, “O teu cabelo não nega”, Índio quer apito” e o “O Rei Zulu”…

Poucos sabem, porém, sobre a origem do Carnaval. Uma escola de historiadores associa-o às festas da colheita no antigo Egito em louvor à deusa Ísis e de lá se espalhou pelo mundo, das encostas do Himalaia até o Ocidente.

Chegou à Grécia incorporando-se à festa da colheita da uva reverenciando o mitológico deus Dionísio, patrono do vinho, e foi adotado em Roma, festejando Baco, regente também do vinho e das festas.

Daí veio a palavra Carrus Navalis, carroça que transportava uma enorme barrica com vinho que era distribuído ao povo, numa comemoração que se estendeu até muito tempo depois do advento do cristianismo, até o Renascimento, com os bailes de máscara.

A sabedoria da Igreja Católica que sincretizou uma imensa quantidade de deuses e mitos pagãos, levou o papa Gregório no ano de 590 a incorporar o Carnaval no calendário das festas cristãs, como preparação para o ciclo de jejum e contrição da Quaresma.

Oficializado, o Carnaval atravessou o Atlântico e veio de Portugal para o Brasil como o ‘entrudo’ já na era colonial, incentivado pelos padres e tornando-se a maior celebração do povo brasileiro. Aqui, com críticas e irreverências, traduziu pela boca do povo a voz de Deus…

Nosso carnaval escancara a nuvem entre a realidade e a fantasia. Faz narrativas proverbiais sem o requinte das composições literárias. Homens caricaturando animais, satirizando as mulheres e vice-versa; mascarando o comportamento trivial das pessoas..

As fantasias e canções carnavalescas por metalépse e metalinguagem subvertem a realidade. Infelizmente a sua espontaneidade crítica vem esmaecendo com o tempo; neste ano do Senhor de 2016, pelo que eu saiba só a marchinha ”O Japa da Federal” expressa a sacanice popular.

Como o Rei Momo reina por quatro dias e é quem manda no imaginário do povo, vamos à diversão nas ruas politizando com destaque ao Japa da Federal… Atrairemos os foliões de cuca aberta para sair com o Japa arrancando risadas do povo.

Vários motes estão também à disposição para quem quiser criticar, tanto no critério individual quanto dos blocos que surgem por afinidade. Já imaginaram um Bloco da Mandioca? Quem sabe um carro alegórico para “estocar o vento”? A presidente Dilma, com suas intervenções sem pé nem cabeça será certamente a musa do desprezo pelo seu governo desastrado.

Outra motivação vem da Lava Jato no encalço de Lula da Silva… O Pelegão é uma ótima fonte de inspiração, com as palestras fajutas, leniência ou participação com a roubalheira, a suspeita de acumulação de riqueza ilícita e a sua “honestidade”…

O “Triplex do Guarujá” da família Lula da Silva é também um assunto para as troças e um bloco dos “Sem Teto”… E os 14 caminhões (um frigorífico) da mudança do Ex-presidente do Alvorada para o sítio de Atibaia podem inspirar um cordão carnavalesco…

Na embriaguês alegre da imaginação há de se caricaturar os presos do Mensalão e os parlamentares investigados como Renan, Collor, Eduardo Cunha, Gleise Hoffman , Humberto Costa e Lindemberg Farias… Aqui no Rio, especialmente, o governador Pezão dará uma alegoria incrível.

O carnaval é uma festa popular… Sugiro a formação de um bloco sobre o Aedes Egipti e a mobilização das FFAA fantasiadas de mata-mosquitos enfrentando uma guerra considerada perdida por Dilma!

Estou com vontade de formar o Bloco da Vassoura, com o estandarte do Triplo X, exercitando, com ziriguidum, o exercício de cidadania. “Abre alas que os honestos vão passar sacaneando os corruptos e cantando com o Japa da Federal: “Vem prá cá você ganhou uma viagem ao Paraná!”

Miranda Sá

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