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Carlos Chagas comenta

Por maior admiração e boa vontade que a gente dedique ao presidente Barack Obama, mesmo dando de ombros para a defesa que ele faz do protecionismo, fica difícil evitar a pergunta: de onde sairão o trilhão e quinhentos bilhões de dólares a ser injetados na economia americana? Porque no cofre não estavam, muito menos guardados em Bagdá, pelas tropas estacionadas no Iraque. O anúncio dessa nova megainjeção de verdinhas na economia dos Estados Unidos poderá minorar as agruras lá em cima, mas para algum lugar a conta da impressão em massa será enviada. Faz muito que o dólar desligou-se unilateralmente do padrão-ouro, inundando o planeta conforme a vontade e as necessidades de quem ocupasse a Casa Branca.

Agora, porém, estouraram todos os limites, depois de outros dois trilhões já distribuídos desde outubro do ano passado a bancos, empresas falidas e sucedâneos. Desta vez será para suprir o rompo nas hipotecas não saldadas, como amanhã poderá ser para colocar dentes postiços nos gatos cegos de Nova York. Ou para aumentar o potencial bélico dos “marines” em vilegiatura pelos cinco continentes.

A única reação de vulto partiu da China, por sinal o maior credor dos americanos e de seus títulos. Pretende o governo de Pequim alterar o padrão, substituindo o dólar por uma nova moeda indefinida, isso depois do fracasso da tentativa de Saddam Hussein de trocar dólares por euros nos negócios de petróleo. Deu no que deu, ou seja, na forca para o indigitado ditador e na garantia do controle da produção do Oriente Médio por Wall Street, Dallas e adjacências.

É bom tomarmos cuidado, pois sairá de onde sempre saiu, esse novo fluxo da riqueza destinada a salvar a superpotência única: dos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos.

Às vésperas da reunião do G-20, quem ousará protestar diante de mais essa iniciativa isolada da raposa para estabelecer-se no galinheiro. O presidente Lula estará sendo alertado para a importância de estrilar, única alternativa posta a nosso dispor desde 2003, quando, pela primeira vez, despertou sorrisos de condescendência ao pregar três refeições diárias para a Humanidade. Aliás, o tal Fome-Zero foi para o espaço sem que se tomasse conhecimento de sua trajetória final.

Ou os países pobres aproveitam o mote para reagir ou, mais uma vez, seremos os financiadores da incúria alheia. E olhem que para a América Latina, a África, a Ásia e penduricalhos pode ser o sinal da débâcle definitiva. Se é para não fazer nada eficaz, melhor faria o presidente Lula se continuasse a passear com dona Dilma pelos limites do território nacional…

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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