Tenho um amigo no Rio Grande do Norte, o médico e ex-senador Lavoisier Maia, que nos seus discursos apelava sempre para o bom senso dos seus eleitores e enfatizava o refrão “é comparando que se entende”. As duas expressões eram tão repisadas que marcaram a sua personalidade.
A doutora em psicologia social e autora de diversos livros na sua área, Ana Mercês Bahia Bock, afirma que “o senso comum é uma ciência baseada nos fatos que ocorrem no cotidiano” e para o filósofo Aristóteles, o bom senso é “elemento central da conduta ética, uma capacidade virtuosa de achar o meio-termo e distinguir a ação correta”.
Tratando-se de uma qualidade cultural, o bom senso soma a parte intuitiva do ser humano e a capacidade dos indivíduos terem conhecimento da realidade em que vivem adequando-se às suas regras e costumes.
Na convivência social observa-se que uma pessoa age com bom senso, constata-se que ela argumenta com racionalidade ao julgar e toma atitudes corretas nas escolhas conforme os padrões morais vigentes.
Por estar ligado a moral, o bom senso praticado por um agnóstico, budista, cristão, judeu e islamita é interpretado diferentemente, mas sempre baseado na doutrina seguida e praticada.
Dois séculos atrás a História Literária Lusófona registrou um caso que ficou conhecido como “Questão Coimbrã”, uma polêmica entre António Feliciano de Castilho e Antero de Quental, em torno dos conceitos “bom senso” e “bom gosto” para julgar o realismo e naturalismo.
Castilho, escritor romântico que perseguia os clássicos da literatura, censurou um grupo de jovens escritores e acusou-os de exibicionismo e de falta de bom senso e bom gosto.
O notável poeta Antero de Quental respondeu-lhe com uma carta, depois publicada num panfleto intitulado “Bom Senso e Bom Gosto”. Defendeu a adaptação dos jovens à nova realidade que refletia grandes mudanças, e ridicularizou a poesia de Castilho, que considerava leviana e desvalorizada.
Nos nossos dias revolucionários da economia global e a consequente intromissão tecnológica, a discussão dos grandes vultos portugueses nos parece sem importância, no entanto como é preciso mudar o que deve ser mudado, exige-se o bom senso de todos, principalmente dos ocupantes do poder.
É evidente que não há bom senso do juiz que age politicamente, e de um político que age em interesse próprio. Infelizmente, tais comportamentos desses protagonistas do governo e do estado tornaram-se corriqueiros entre nós.
Falta bom senso ao homem público, parlamentar ou magistrado, que se coloca contra o combate à corrupção. Um legislando para perseguir aqueles que investigam e punem corruptos e corruptores, e o outro afrouxando as punições dos criminosos favorecendo a impunidade.
O bom senso, portanto, está na cabeça de cada um, por sua formação ideológica. Uma passagem histórica (pode até ser uma lenda) conta um fato ocorrido entre Dario – o derrotado rei dos persas -, e Alexandre – O Grande -. Ao terminar a batalha final, o conquistador foi procurado por um emissário do derrotado.
– “Alexandre”, disse o embaixador, “Dario lhe oferece a metade do seu reino em troca de uma paz honrosa”. O conselheiro do Macedônio, Parmênio, presente ao encontro, tomou a liberdade de intervir, dizendo – “Se eu fosse Alexandre, aceitaria”.
Com a segurança e o bom senso dos grandes líderes, Alexandre respondeu: -“Eu também, se fosse Parmênio”. E recusou.
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