Categorias: Artigo

AS MÃOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Aquilo que pedimos aos céus na maioria das vezes se encontra em nossas mãos” (Shakespeare)

Aprendi a lavar as mãos condicionado, como o cachorrinho de Pavlov…. Foi quando operei meus olhos de catarata e temendo infecções, adotei o hábito e rotinizei-o. O lavar as mãos é uma expressão antiga, e está no Novo Testamento (Mateus 27:25) descrevendo o julgamento de Jesus.

Confesso que a interpretação dos textos dito sagrados não é a minha praia; mas por ler as famosas audiências do Sinédrio, de Herodes e de Pilatos, achei uma passagem sustentando que o governador romano da Palestina, Pôncio Pilatos, não queria condenar Jesus como exigiam os fariseus, e não entendia porque o povo os apoiava.

Pilatos argumentou três vezes em defesa da inocência de Jesus, sem ver mal nas pregações dele; e disse à multidão arregimentada pelos sacerdotes: – “Não acho nele crime algum”.

Entretanto, sob pressão e vendo de que nada adiantavam suas ponderações, condenou-o à morte, lavando as mãos e dizendo que a culpa decorrente deste ato recairia sobre a população judaica: “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos”.

Graham Greene, jornalista e escritor inglês, conhecido pelo best-seller “O Americano Tranquilo”, entre vários romances, contos e peças teatrais, ficou inconformado pela atitude covarde do representante de Roma, e escreveu: “Eu preferiria ter sangue nas mãos a ter água como Pôncio Pilatos. ”

Greene não levou em conta a maldição de sangue que, segundo intérpretes radicais dos textos evangélicos, resultou na destruição de Jerusalém em 70 d.C., a dispersão (diáspora) dos judeus pelo mundo, e, mais tarde, as perseguições racistas.

Falando dos tempos antigos, o Pai da Medicina, Hipócrates, disse que as mãos são reveladoras de enfermidades físicas e psíquicas. Ensinou que os dedos achatados são típicos de tuberculosos. E o diagnóstico moral pela observação das mãos, dedos e unhas, proposto por S. D’Arpentigny – criador da quirognomonia –, classificou diversas formas anatômicas desses órgãos.

O “lavar as mãos” na linguagem cotidiana popular, significa não assumir uma posição, não decidir, não se meter, não opinar sobre um caso qualquer. (Dicionário de Gíria, de  J. B. Seabra e Gurgel). No meu tempo dizia-se que os bolinadores nos bondes, ônibus e trens, tinham “mãos bobas”…

E tem também o levantar da mão espalmada em juramento exigida nos tribunais, é a representação mais estúpida da hipocrisia, e talvez por isso tenha sido adotada como cumprimento pelos nazifascistas no “Ave” mussolinista e no “Heil” hitlerista.

A numerologia do poeta Mário Quintana ensina que “nos foram dadas duas pernas para andar, as duas mãos para segurar, dois ouvidos para ouvir e dois olhos para ver”, levando-nos a observar que apesar disto, que tem gente que não anda, não ouve, não vê e nada faz com as duas mãos…

É o que reconhecemos tristemente nos três poderes republicanos, frutos pecos do Estado de Direito, mostrando-nos que a Democracia termina por entregar o poder nas mãos de uma minoria, como assistimos STF conjurando para instituir o Reino da Impunidade.

Sem ser militarista, Rui Barbosa defendeu que “o Exército pode passar cem anos sem ser usado, mas não pode passar um minuto sem estar preparado”; eu também, civilista e liberal, gostaria de ver os militares levarem as armas às mãos contra os corruptos e seus poderosos aliados.

Marjorie Salu

Compartilhar
Publicado por
Marjorie Salu

Textos Recentes

FALANDO GREGO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) Clássico é clássico; não foi por acaso que Shakespeare criou expressões que…

13 de outubro de 2025 18h05

DAS PAIXÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor…

8 de outubro de 2025 8h55

DAS PROIBIÇÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Na ditadura militar que durou de 1964 a 1979 censurando a expressão do pensamento, cantou-se a…

30 de setembro de 2025 18h41

Augusto Frederico Schmidt

As chuvas da primavera Em breve virão as chuvas da Primavera, As chuvas da primavera Vão descer sobre os campos,…

25 de setembro de 2025 20h00

DE MURMÚRIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Só ouvi a palavra “Murmúrios” em letras de boleros e tangos. É visceral; o seu intimismo…

24 de setembro de 2025 12h03

Marina Colasanti

Outras palavras Para dizer certas coisas são precisas palavras outras novas palavras nunca ditas antes ou nunca antes postas lado…

21 de setembro de 2025 20h00