Relembrando a saga de Pedro, que foi a Roma liderar os cristãos e fundar a Igreja Católica, sendo crucificado a mando de Nero, de cabeça para baixo, o seu sucessor dos nossos dias, Bento XVI, disse em sua carta renúncia que Roma não é só glória, mas também martírio.
Seu afastamento chocou o mundo, mas não para a hierarquia eclesiástica, como para seu irmão padre, Georg, que disse ao jornal coloniano Die Welt, que sabia dessa decisão. O impacto, entretanto, teve a revelação de que o pontífice, de 85 anos, vive com um marca-passo há muito tempo.
O marca-passo é usado para manter o ritmo e os batimentos cardíacos com estímulos elétricos em pacientes que apresentam anormalidades, e segundo o jornal italiano Il Sole 24, faz somente três meses que Bento XVI se submeteu a uma cirurgia para substituir as baterias do aparelho.
É impossível esconder que os problemas de saúde tenham influenciado a decisão do chefe da Igreja Católica, embora o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, tenha afirmado categoricamente que as funções orgânicas, físicas e mentais dele não apresentam qualquer gravidade.
Muitas outras versões são apresentadas por ‘especialistas’. Fala-se da influência que os escândalos sexuais, pederastia e pedofilia envolvendo sacerdotes, muito pesaram na determinação, como também as pressões administrativas e burocráticas teriam causado incômodos e sofimentos.
É claro que aos poucos receberemos informações mais precisas, porque a Historia é inexorável. De concreto, sabemos que a movimentação do Papa cumprirá uma agenda pré-datada. A Cúria Romana vai manter o calendário das atividades pontificais durante este mês, como a celebração das Cinzas, cerimônia que marca o início do tempo litúrgico da Quaresma.
Somente em 27 de fevereiro, o mundo assistirá a última aparição pública de Bento XVI numa missa a ser realizada na Praça de São Pedro. A comoção entre os católicos é imensa, diante da renúncia papal, fato inédito em 600 anos e com poucos precedentes na história de poder e espiritualidade que envolve o trono de Roma.
Sem professar qualquer religião, portanto despido de opiniões sectárias, tolerante e transigente na análise da situação, creio que o chefe do catolicismo demonstrou uma grande sabedoria e coragem. E reconheço a sua condição de ser um teólogo sem-par nos dias atuais, como se vê nas suas apuradas encíclicas, em que afasta a mensagem de Cristo da política.
Esta é a causa principal das incompatibilidades dos chamados bispos progressistas com Bento XVI. A doença infantil da esquerda católica foi medicada com doses cavalares de doutrina, ministrada por um erudito, conhecedor de Hegel, Marx, Engels e seus seguidores.
Reconheço no renunciante um defeito na sua figuração como líder e governante: a absoluta falta de carisma, uma qualidade especial de liderança que sobrou no seu antecessor, João Paulo II.
Por outro lado, a intransigência doutrinária trouxe uma sobrevida aos conservadores da Igreja Católica, defensores dos princípios eclesiásticos e do status da dignidade apostólica a qualquer custo.
Resumindo: Bento XVI não renunciou ao governo de um estado independente, o Vaticano que, com apenas 44 hectares, é o menor país do mundo. Entregou o comando de milhões e milhões de adeptos do catolicismo espalhados por todo o planeta.
Vê-se no Papa tal importância, que esta renúncia abalou o mundo inteiro, inclusive prosélitos de todas as religiões organizadas. Até os sem-religão devem-lhe respeito, e reconhecem que foi um ato de lucidez, por que o Papado não é só glória, mas também martírio.
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