Categorias: Notas

Artigo de Miranda Sá

Farol que ilumina passado, presente e futuro

MIRANDA SÁ (mirandasa@uol.com.br)

Na farta literatura publicitária do fascismo vermelho, sob o domínio ideológico do culto à personalidade de Stálin, nós – os jovens da época – empanturrávamos com epítetos nominais, antonomásias qualificativas, atribuições de qualidade e classificações biográficas referentes ao Nosso Guia.

Somente no livro “O Mundo da Paz” de Jorge Amado (que em vida repudiou-o) encontrei 64 designações adjetivadas para o “Farol que ilumina(va) os caminhos da humanidade”.

“Guia dos povos amantes da Paz”, “Nossa Bússola”, “Genial guia dos povos”… E vai por aí o besteirol que nos iludia e escondia imposturas, farsas e crimes. O sistema conservador e policialesco da finada URSS envelheceu sem que o movimento comunista internacional se desse conta disto.

Foi algo parecido com o que ocorre com o regime cubano na atualidade. Congelou os princípios, deixou de sonhar, ocultou os erros e mascarou os êxitos. Che Guevara foi mais feliz do que Fidel, morrendo antes de conservar-se em formol. Virou mito e vai se eternizar…

Sei que estas colocações não representam o pensamento de muita gente. Mas quem não tem olhos de ver, ouvidos de ouvir, narizes de cheirar, bocas de experimentar e tato para perceber ranhuras, jamais conseguirá ver a luz, ouvir a verdade, sentir a aragem do novo, degustar o futuro e apalpar os amanhãs.

Ocorre agora neste Brasil varonil. É o que a gente encontra no desdenhar insolente de Lula da Silva, cavalgando uma popularidade duvidosa – obtida em pesquisas de opinião pública que lhe dão mais de 70% de aprovação.

Ele é chamado de Nosso Guia entre os restos de militância do PT original, até por professores universitários. Este culto a sua personalidade tempera (ou destempera) um atrevimento que chega às raias de uma personalidade fragmentada sem noção da realidade.

Não é de outro jeito que uma pessoa, ocupando a presidência da República, declara de público que “não podemos ficar subordinados, a cada eleição, ao juiz que diz o que a gente pode ou não fazer”.

Essas palavras desrespeitosas ao poder judiciário só teem comparação com o rato peruano Alberto Fujimori antes de fechar a Suprema Corte del Peru e ao sargentão venezuelano Hugo Chávez ao infestar amigos no Tribunal Supremo de Justicia do seu país.

Fujimori teve o triste fim que todos conhecemos, melancólico como deve ser o falecimento de um ditador civil, o pior dos ditadores; Chávez encaminha-se para levantar o povo venezuelano contra si, o que veremos em breve.

Lula da Silva, como diz magistralmente Elio Gaspari: “comporta-se como dono do país quando se mostra confortável na condição de padrinho, animador e empresário de Dilma Rousseff”.

Felizmente Lula tem sentido o peso das instituições depois da multa sofrida por violar a legislação eleitoral. De ser admoestado por militares por tentar descumprir a lei da anistia. De ser criticado pela igreja e combatido pelos órgãos de comunicação em função de um abjeto Plano Nacional de Direitos Humanos.

Sua feição no Exterior empalidece, com críticas contundentes ao seu comportamento desdenhoso diante da morte – por greve de fome – de um preso político, e comparar presos de consciência com bandidos comuns.

A candidata que tirou do bolso do colete, sem ouvir o seu partido e muito menos os seus aliados, segue-lhe nos absurdos e inconveniências, como fez agora aludindo o exílio do seu adversário José Serra, como “fuga”.

Ela teve com os exilados  o mesmo desplante que teem os generais da “linha dura” em depoimentos recentes. Sua mediocridade aflora toda vez em que expressa um sentimento natural, longe do farol que ilumina o seu passado, presente e futuro.

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Miranda Sá

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