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Artigo de Miranda Sá

Respondam os lulo-petistas: o PNDH3 era bom ou ruim?

MIRANDA SÁ, jornalista (mirandasa@uol.com.br)

Eu só quero entender: o PNDH3 era a consolidação ideológica do governo de Sua Majestade Metalúrgica ou não passou de um balão de ensaio do apagado pelego Paulo Vannuschi, ministro dos Direitos Humanos?

No lançamento do PNDH3, Vannuschi se travestiu de ideólogo, com a sisudez de candidato à Academia Brasileira de Letras. Arrotou vanguardismo “de esquerda” e se arvorou de pai do Brasil Sindicatão, e agora, vendo de crista baixa o seu projeto remexido e descaracterizado diz que as mudanças foram positivas…

É certo que às vésperas de uma Copa do Mundo o povão não quer saber de outra coisa senão do futebol e do patriotismo esportivo, mas os letrados deste país devem estar pensando sobre a escancarada expressão de “multi-ideologia”, tema de discussão nos botequins parisienses.

O que diabo é “multi-ideologia”? Uma nova jogada de marketing de Obama ou a “governabilidade à européia” dos países que adotam o parlamentarismo? Parece que essas duas versões e outras mais, porque o jornal espanhol El Pais chamou Lula de “multi-ideólogo” e isso embaralha tudo.

Se os conservadores britânicos que ganharam a eleição por uma meia dúzia de três ou quatro votos fazem alianças com os liberais-democratas para assumir o poder em lugar dos trabalhistas, praticam a “multi-ideologia”, Lula faz o contrário: incentiva o mensalão, alia-se aos 300 picaretas, dá força a Renan Calheiros e José Sarney para garantir a “governabilidade”.

Não pode ser considerado “multi-ideologia”, por exemplo, o lance oportunístico do Presidente, cedendo às pressões de vários setores da sociedade, entre eles as duas poderosas frações da Igreja Católica e das Forças Armadas. Lula se dobrou por pura malandragem.

Mesmo assim condescendendo em transfigurar o PNDH3, não agradou, pois atendeu as queixas de uns e desprezou as reclamações de outros. Tirou a legalização do aborto, considerando-o uma “questão de saúde”; agradou religiosos e desagradou feministas.

Anuiu aos reclamos dos militares no caso da anistia aos torturadores, mas descontentou até a UNE – a mais pelega das entidades do movimento popular; atendeu aos ruralistas, mas recebeu severas críticas de pastorais católicas e do MST.

Afastou as ameaças à liberdade de imprensa, acabando com as propostas de punição de rádios e TVs por desrespeito aos direitos humanos e riscou o texto referente à disciplinamento dos jornalistas, o que deixou os stalinistas e afins fulos de raiva.

Tendo, como exemplo o PNDH – de curto período de vida – vê-se que – não é fácil assumir uma política “multi-ideológica” no Brasil, e sim a sua caricatura, graças ao jogo de cintura de Lula. Este conquistou uma imensa popularidade aconchegando sob as asas dos privilégios, banqueiros e estudantes ativistas, católicos e defensores do aborto; conservadores e gays; preservacionistas do meio ambiente e desmatadores; corruptos de todos os naipes e moralistas tipo Suplicy e Paulo Paim.

Dessa maneira, distribuindo cargos e verbas públicas a personalidades, partidos, meios de comunicação, sindicatos e organizações não-governamentais este “multi-ideologismo” à brasileira vai levando, porque a terminologia política que vale para as democracias européias é subvertida no Brasil.

Aqui, a ideologia não tem vez. Perde para as transigências circunstanciais e as acomodações diante dos fatos. Em linguagem corriqueira: a multi-ideologia do PT-governo é oportunismo do bom e do melhor.

Miranda Sá

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