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Pré-sal e a Petrobras sobre (ou sob?) as ondas

MIRANDA SÁ, jornalista (mirandasa@uol.com.br)

Multiplicam-se as informações, com lamentos ou gozações, de que a CPI da Petrobras apequenou-se e não dará sequer uma pizza. No máximo uma esfirra daquelas que entram nas promoções das lanchonetes especializadas.

É uma pena para o Brasil, e deplorável para mim que levei cassetetadas da Polícia Especial participando de manifestações em defesa das riquezas naturais do Brasil, do petróleo e da Petrobras.

Corri, apanhei, fui preso vendendo o jornal Emancipação, mas tive o orgulho de ver a Petrobras nascer e ser dirigida por engenheiros e técnicos de excelência profissional e patriotismo. Depois, burocratizou-se e, em conseqüência, politizou-se.

O grau de degenerescência institucional deu no que está dando. Denúncias sobre denúncias, do Tribunal de Contas da União, do Ministério Público, da Política Federal e da valiosa reportagem investigativa da nossa imprensa. As falcatruas são de todo tipo, superfaturamento, compadrio partidário, contratos por favorecimento, enfim, uma vazão de dinheiro escorrendo para o ilícito.

É tão escancarada a malversação na estatal que se levantou uma pororoca do Palácio do Planalto e adjacências para evitar a convocação da CPI. E muito aço temperado para blindar os atuais diretores empresa. O presidente (lembram-se?) correu a proclamar que era “irresponsável” a criação de uma CPI e de uma hora para outra virou nacionalista acusando de entreguismo e privativismo qualquer investigação na Petrobras.

Quem acompanhou o caso do início sabe da história dos artifícios contábeis que resultaram na sonegação de impostos e contribuições com valores na ordem de R$ 4,3 bilhões! Como as ações de uma empresa acompanham sua radiografia patrimonial, as manobras falsearam a realidade, o que é considerado crime em qualquer país do mundo. Inclusive no Brasil.

Isto foi descoberto – segundo me informaram – quase que por acaso. Um repórter atirou n o que viu e matou o que não viu. Isto porque a Petrobras depois de fechado o aparelhamento partidário, nunca respondeu aos pedidos de informação da Câmara ou do Senado e não a menos satisfação às decisões judiciais.

Como as polícias secretas hitleristas e stalinistas eram um governo dentro do governo, assim vem se conduzindo a empresa estatal do petróleo. E se porventura os portões da clandestinidade fossem abertos iriam revelar coisas que até Deus duvida, como em breve fatalmente ocorrerá com a CIA.

A manipulação artificial do valor das ações – como até agora não prejudicou os acionistas minoritários – não é levada em conta; mas as irregularidades fiscais e os desvios de verbas estão na mídia e revoltam os antigos defensores – como eu – do monopólio estatal do petróleo e da Petrobras.

Por isso não é difícil ver-se que o controle da CPI patrocinado pelos sócios de Lula, Sarney, Renan e Collor, use as armas ao seu alcance, para evitar o vazamento de qualquer irregularidade. Com transgressores da ética, compram consciências, ameaçam resistentes e reduzem a oposição parlamentar a peróxido de titica de galinha.

Mas não escondem o temor de um dia tudo se esclarecer. Não por acaso a mobilização das tropas de choque e do cheque e a proposta de criação de uma nova empresa estatal para gerir a exploração do chamado pré-sal. Para lá está a reserva de cargos para o PMDB fisiológico e os neo-petistas apelegados.

A esfirra de promoção servida na Casa dos Horrores vai garantir a impunidade dos suspeitos de corrupção, ou livrar a cara dos que possivelmente sejam acusados injustamente. Assim, vemos que neste caso as águas não são tão profundas: o “Pré-sal” e a Petrobras ficam sobre (ou sob?) as ondas.

Miranda Sá

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