Recordar coisas antigas, histórias ouvidas dos pais, registros históricos colhidos na escola ou grifadas em livros de segunda mão, mexem com a nossa cabeça. De uma dessas fontes publiquei num dos meus artigos o que considero um dos exemplos clássicos do obscurantismo religioso.
Ocorreu numa visita que o célebre geógrafo alemão Alexandre de Humboldt, apaixonado pelas ciências naturais, visitando o papa Alexandre VII, seu contemporâneo do século 18, e ouviu dele o disparate de que os meteoritos eram pedras que caíam de uma fenda na abóboda celeste.
O triste é que não são apenas coisas de antigamente. Ainda hoje mentes refratárias à realidade fazem coisas idênticas; por exemplo, revolta-me saber que as Testemunhas de Jeová são contra a transfusão do sangue, levando pessoas necessitadas deste procedimento à morte…
É a contradição entre o amor pregado pelo Cristo e a desumanidade negativista da Ciência, coisa que vem ocorrendo entre nós com alguns pastores evangélicos que, por opção política, combatem a vacina contra a covid 19.
Lembro o grande Einstein dizendo que a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente, provocando ilações para o raciocínio lógico.
Antigamente, na Grécia e na Roma considerava-se a Justiça uma deusa personificada por Themis, filha de Urano (Céu) e de Gaia (Terra); e bem mais tarde, quando os reinos da Inglaterra e da Escócia se aliaram, Malcolm IV assumiu o trono escocês.
Coroado, Malcolm reuniu os nobres do reinado e recebeu de um barão petição para recuperar os privilégios que perdera anteriormente; então pegou o pergaminho apresentado e mesmo sem o ler, rasgou-o.
O barão recorreu ao tribunal parlamentar que baixou uma inusitada sentença, mandando que o Rei, diante da corte, cosesse com agulha e linha o documento e assinasse a patente. Vê-se que então (no século 12) a Justiça, mesmo sem ser divina, funcionava.
Muito diferente dos dias atuais, quando a política adentra nos tribunais e a Justiça sai pela porta dos fundos…. E por isto, a desgraçada impunidade de criminosos é imposta, como vimos em relação aos corruptos condenados pela Lava Jato.
Falar sobre a Justiça é como girar numa roda gigante de baixo para cima e vice-versa; acusa-se elegantemente a pouca intimidade de muitos magistrados com o direito romano, o código processual inglês e a Constituição dos EEUU.
Não tomam conhecimento dos tribunais de exceção, nem a barbárie nazista estabelecida por Hitler, que escreveu no seu Mein Kampf que “o poder não se mantém com piedade”, e com Himler e Streicher montou os campos de concentração legalizando a escravatura, a tortura e a morte.
Na minha opinião, para ser jurisconsulto ou especialista no Direito positivo seria necessário, além de ralar a bunda na banca de estudos e folhear apostilas e livros, deveriam também conhecer os clássicos da literatura mundial. Aguçando assim a sensibilidade para os direitos humanos.
Para bem julgar com independência e humanidade,os juízes precisariam conhecer o poema do poeta norte-americano Carl Sandburg, que perguntou qual será a família dos homens no futuro; e ele próprio respondeu poeticamente:
“Só existe um homem no mundo/ E se chama Todos-os-Homens/Só há uma mulher no mundo/ E se chama Todas-as-Mulheres/ Só vive uma criança no mundo/ E se chama Todas-as-Crianças. ”
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