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AMIGOS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Que importa o tempo? Há amigos de oito dias e indiferentes de oito anos.” (Machado de Assis)

Para falar de ‘amigo’, buscamos a origem da palavra, que vem do latim ‘amicus’, e na velha Roma era derivado de amore; tratando-se de relação afetiva, assexuada, entre duas pessoas. Os dicionários de língua portuguesa classificam ‘amigo’ como adjetivo, que se torna substantivo ao vir adjetivada como, por exemplo, ‘grande amigo’ …

Histórica e filosoficamente, o conceito de amizade varia no espaço e no tempo; cada organização social apresenta formas diversas de amizade; na minha época e geração, considerávamos uma ligação pessoal – algumas inexplicáveis – que proporcionavam afeição, intimidade e lealdade.

Jan Yager, socióloga americana que escreveu “Bons Amigos Maus Amigos” deu uma de ‘brasilianista’ comentando que para os brasileiros, de maneira geral, “amigo é em quem se pode confiar por ser alguém que lhe quer bem, e não usa esta condição para fins de interesse”.

Alguns críticos dos meus trabalhos literários me acusam de politizar todos os meus textos; não é mentira. Conhecendo o livro de Jan Yager, devo falar de Brasil, onde na política se multiplicam amigos interesseiros e mal intencionados.

Veja-se a forma de amizade do ponto de vista da amoralidade lulo-petista: Lula alardeava um bom relacionamento com Fernando Henrique Cardozo e, depois de eleito, além de repetir ter recebido do ‘amigo’ uma herança maldita, incentivou até aloprações contra Ruth Cardoso, esposa de FHC.

A outra hierarca petista, Dilma, se abraçava mantendo aparente amizade com o deputado Eduardo Cunha, com quem rompeu passando a xingá-lo de tudo quanto é adjetivo insultuoso. Fez o mesmo com o ex-senador Delcídio do Amaral que foi seu líder no Senado: Disse que Delcídio “sempre teve o hábito de mentir”, sem especificar se havia tal defeito quando foi próxima, quase íntima, dele.

Não se vê sempre alguma reação no rompimento da amizade. O ex-advogado geral da União, José Eduardo Cardoso, ouvia dizer que seu amigo Lula falava dele cobras e lagartos às ocultas, e até pediu a sua demissão à ex-presidente Dilma, mas acumulou sua raiva despejá-la contra o impeachment pela continuidade da corrupção do desafeto por Lula.

Vê-se que ‘amizade’ nos círculos petistas é tão relativa quanto a sua ideologia… O próprio PT oscilou entre o combate à corrupção e locupletando-se nela. O petista é sobretudo aquele que, como uma biruta de aeroporto, só assume a posição que o vento do comando sopra…

Essa gente não valoriza o amigo, como Maurício de Sousa exemplifica com Cebolinha e Cascão da Turma da Mônica; ou como assistimos no belo desenho animado “Procurando Nemo” o altruísmo da pexinha Dory com o peixinho Nemo; ou nas histórias de quadrinhos de Batman e Robin.

Na literatura, temos Sherlock Holmes e Dr. Watson do genial Conan Doyle, e a fraterna relação dos “Três Mosqueteiros” de Alexandre Dumas, acho que não existiu amizade de Dom Quixote por Sancho Pança por que o fidalgo decadente era meu amalucado assim como Dilma, mas Cervantes deixou claro que havia de Sancho para Quixote.

É tão forte a amizade nos círculos parentais que se confunde com o amor; e que o amigos não escolhem a gente, mas nós os elegemos. Entre pessoas normais ocorre o que ensina Machado de Assis:  o afeto nasce espontaneamente sem dizer como, e sem cobrar nada.

Nos meios fascistóides isso é incapaz de acontecer. No terror fantástico da sua atuação política, os lulo-petistas só pensam no Chefe, no Partido e neles próprios.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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