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AMIGO DA ONÇA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O falso amigo e a sombra só nos acompanham quando o sol brilha” (Benjamin Franklin)

Uma das inesquecíveis lembranças da infância (que já vai muito longe) é a leitura da revista “O Cruzeiro”, que meu pai comprava toda semana e minha mãe paraibana, pão dura, fez uma assinatura semestral porque dava um desconto de 30% no preço.

A revista era de Assis Chateaubriand que, digam o que disserem dele, foi o jornalista mais inteligente do Brasil; e se acrescente a esta qualidade de nascença, tinha agilidade mental, oportunismo no empreendorismo, perspicácia na escolha dos auxiliares e, sobretudo – o que está faltando atualmente – vocação para o jornalismo.

“O Cruzeiro” reunia o suprassumo do profissionalismo da sua época, destacando-se na década de 1950 a dupla formada com o repórter David Nasser e o Jean Manzon. Nesse tempo impressionou-me a reportagem “Cem dias na fronteira da loucura” do paraibano José Leal, que me levou à imprensa e com quem mais tarde trabalhei orgulhosamente na Editora Abril.

A revista cobria todo território nacional e edições em espanhol para a América Latina trazendo com perfeição editorias de cinema, culinária, esportes, humor, medicina, moda e política, como, inevitavelmente uma coluna social e crônicas nota “dez”.

As seções de humor eram impagáveis: Pif-Paf, de Millôr Fernandes, que assinava como Vão Gôgo, e Amigo da Onça, criada pelo cartunista Péricles de Andrade Maranhão, que simplificou o nome para Péricles.

É enfadonho repetir que Millôr era um gênio; e Péricles – menos filósofo e sempre andando com os pés no chão – aproveitou o dito popular “Amigo da Onça” e produzia charges impactantes. Ainda hoje se usa essa expressão para designar pessoa não confiável e que geralmente quer passar a perna noutro.

Mais direto, o amigo da onça é alguém que finge ser amigo apenas para satisfazer os seus interesses pessoais. É uma figura que convive com a gente, em todo tempo e em todos os lugares, e é bom estar sempre de olho nela.

Como a política é um ambiente que junta gente de todo tipo, de formação diversa e comportamento de toda espécie, reúne bons e maus. E para os que não prestam, é um lixão de muitos amigos da onça que lembram uma antiga marcha-frevo que cantava “Soltaram a onça, corre todo mundo…”

Tenho muita tristeza em reconhecer na cena política e escrever que na intimidade do presidente Jair Bolsonaro vê-se muitos desses tipos, por carreirismo e inconsequência; e o pior que alguns se julgam indispensáveis.

Para me referir aos jornalistas sensacionalistas, gosto da metáfora dos lobos famintos que ficam observando e aguardando as rações fornecidas pelo círculo presidencial.  Em sua maioria antipáticos às propostas de Bolsonaro, são ávidos por deixas que lhes permitam negativar fatos e pronunciamentos que o prejudicam.

Vemos assim que a mídia faz oposição alimentada pela situação…  Publica as palavras mal-empregadas, entrevistas impensadas e as tricas e futricas de bastidores, dando à minoria organizada e ruidosa da pelegagem argumentos para objetar o governo que a derrotou nas eleições.

Dessa maneira, além do besteirol que germina no canteiro presidencial, surgem crises artificiais que constrangem os apoiadores do governo. E isto se deve, vale repetir, ao despreparo e ao deslumbramento de quem alcançou, de carona, o poder.

Inegavelmente, o Presidente vem sendo salpicado pela tinta dos pichadores de um lado e do outro, embora sem carregar máculas que o comprometam. Ainda bem que temos um Ministério que não nasceu do troca-troca obsceno dos picaretas do Congresso Nacional.

Por isto e para reforçar a nossa esperança, temos no Governo, entre civis e militares, personalidades que merecem o respeito da sociedade e que desenham o futuro do Brasil com amor à Pátria.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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