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ABANDONO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Quem abandona a luta não poderá nunca saborear o gosto de uma vitória” (Textos Judaicos)

Sempre, em toda época e em todo lugar, aparece um curioso importuno. Outro dia li a notícia de que certa pessoa escreveu para o Papa Francisco perguntando se Deus era mesmo brasileiro. Essa alegoria é de tal modo repetida que se traveste de verdade, dando razão ao ministro nazista da Propaganda, herr Goebbles.

Até o momento em que escrevo este texto, não tomei conhecimento de que Francisco tenha se dado ao incômodo de responder ao missivista. Interessante é que andei matutando sobre o caso e acho que o abelhudo indiscreto merece uma resposta.

Se Deus é brasileiro ou não, pouco importa; mas seu filho Jesus Cristo no sofrimento da cruz, perguntou-Lhe com toda santidade: – “Eloi, Eloi, lamma sabactatani?”; (“Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste? ”).

Este abandono sofreu o povo brasileiro nas eleições; foi chicoteado e condenado a carregar a pesada cruz da insanidade polarizada onde ficará pregado pelos próximos quatro anos. Este quadro reflete a pergunta do Nazareno, abandonado pela Providência Divina.

Do alto do martírio a cidadania assistiu a cena macabra da escolha entre o ruim e o pior entre corruptos populistas, diferentes apenas pelos rótulos de direita e esquerda auto-assumidos, mas semelhantes pelas práticas.

Eis o exemplo que as urnas nos deixaram junto com o direito de perguntar ao Arquiteto do Universo na sua onisciência e onipotência, o porquê abandonou o povo que O aceita contrita e carinhosamente entre os seus nacionais.

Não foi difícil assistir a realidade – não das pesquisas enganadoras -, mas no giro de uma roleta com a bolinha de marfim atestando o número vencedor sob o olhar angustiado dos jogadores.

A bolinha saltitante atestou o fim da primeira etapa do jogo eleitoral, jogo que sabemos não é recreativo nem divertido, mas  recorda a constatação do matemático Bertrand dizendo que “a bolinha não tem consciência nem memória”.

Nem sempre os números perseguidos na mesa verde, sejam pares ou ímpares, vermelhos ou pretos, repetem-se sempre; fogem incoerentemente muitas vezes, negando as apostas. E o pior se dá quando as combinações extravagantes, misturam os cálculos políticos e a fé religiosa….

Será justo, porém, abandonar as apostas no destino por um resultado negativo? Na minha opinião, não; devemos insistir, mesmo sabendo que nunca será encontrada a fórmula matemática de se ganhar na roleta giratória.

A insistência em fugir do tormento de termos governantes egocêntricos, populistas e corruptos, evita que a eleição seja um jogo dos partidos “sopinhas de letras” e das ideologias inautênticas, mas gelatinas coloridas para aguçar apetites.

As urnas eletrônicas mostraram ser confiáveis. Se os eleitos não o são, a culpa é do eleitor masoquista que adota bandidos de estimação e goza com o sofrimento; o voto consciente e patriótico porém, ao contrário, exige educação e amor-próprio.

O futuro não é uma roleta girando, mas a consequência da ação política cidadã. Para que ele nos chegue radiante, com liberdade e justiça, devemos adotar o que ensinou Ulysses Guimarães: “A Pátria não pode se tornar capanga de idiossincrasias pessoais”.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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