Categorias: Artigo

A MAGIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O princípio da Causa e Efeito:  qualquer causa tem seu efeito.   Qualquer efeito tem sua causa” (Hermes Trismegisto)

Contaram-me a história de um prefeito da Zona da Mata mineira, que redigia os seus próprios decretos, e num deles, sobre um feriado, escreveu que o comércio da cidade deveria ficar “hermeticamente fechado”. Além do pleonasmo, é quase certo que o político não conhecesse a origem da palavra “hermético”.

A palavra Hermético vem de longe, no tempo e no espaço. Originou-se do nome do filósofo, legislador e médico do Antigo Egito, Hermes Trismegisto, nosso epigrafado, que viveu entre os anos 1.500 aC e 2.500 aC.

Trismegisto escreveu vários livros de pesquisas médicas, observações políticas e sociais, tratados de teologia e experiências alquímicas. Quase todos os seus escritos se perderam nas invasões sofridas pelo Egito, e certamente algumas delas foram incineradas no incêndio da Biblioteca de Alexandria.

Uma das suas obras, conhecida como ‘Tábua de Esmeralda’, circulou durante séculos entre os letrados árabes e foi registrada no livro “Segredo dos Segredos”, em árabe Kitab sirr al-Asrar. Diz-se que a Tábua inspirou os antigos filósofos gregos, destacando-se entre eles Aristóteles, Platão e Sócrates.

A Tábua de Esmeralda (ou Tábua Esmeraldina) não tem versão em grego, embora haja a referência histórica de que foi traduzida do grego para o siríaco e do siríaco ao árabe por Iáia de Antioquia, um tradutor relativamente famoso do século IX.

É importante e curioso o legado cultural contido neste documento que é um tratado guardião de antiquíssimas observações sobre a arte de governar, astrologia, ética, fisiognomonia, medicina e química.

Foi descoberto e traduzido para o inglês no século 13, pelo frade franciscano Roger Bacon, cujo mérito intelectual proporcionou-lhe o título de “Doctor Mirabilis” (“Doutor Admirável”, em latim).

A curiosidade pessoal do frei Roger Bacon e o seu prestígio acadêmico levou ao conhecimento das universidades de Oxford e de Paris as experiências químicas da Tábua, contendo os processos experimentais da liquefação, purificação, oxidação e evaporação, além da obtenção em laboratório de diversos ácidos, dando origem à Alquimia.

A palavra Alquimia é substantivo feminino de etimologia árabe; al-kîmiyâ; pelo grego khymeía, “fusão de líquidos”. É mal definida nos dicionários da língua portuguesa como “a química da Idade Média”; na verdade, a Alquimia era praticada a milhares de anos em busca de remédios para todos os males e mesmo a imortalidade. É gêmea univitelina da magia.

No antigo Egito e na Europa medieval a confinidade da alquimia com as práticas mágicas, esmiuçando elementos minerais e vegetais da Natureza, invocando forças sobrenaturais, anjos ou demônios, realizando rituais do que hoje chamamos de feitiçaria.

Graças ao médico e químico suíço Paracelso, a Alquimia tomou um rumo diferente, o estudo do poder do homem sobre a matéria e a energia. Embora ele tendo confessado que somou aos seus estudos o aprendizado do ocultismo e especulações de natureza mística e esotérica com a Magia e a Cabala, abandonou-os, voltando-se para a pesquisa científica sistêmica.

Paracelso foi uma figura notável, tendo discutido aos 14 anos com os catedráticos de Medicina da Universidade de Viena em 1508, e 20 anos mais tarde venceu a peste negra e antecipou em 500 anos a cura da sífilis, revolucionando a Medicina.

O lado satânico da magia que Paracelso descartou, volta nos dias de hoje assentado no despautério dos que veem num antigo e comprovado remédio para a malária, a cloroquina, uma panaceia para a cura da covid-19.

Do outro lado, a magia como arte herdada dos grandes profetas e médiuns do naturalismo, busca, ao contrário, aquilo que está oculto; na medicina, faz a pesquisa objetiva das vibrações biológicas dos seres vivos; e, na convivência sócio-política, interpreta os sinais transmitidos pela energia do inconsciente humano.

Marjorie Salu

Compartilhar
Publicado por
Marjorie Salu

Textos Recentes

FALANDO GREGO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) Clássico é clássico; não foi por acaso que Shakespeare criou expressões que…

13 de outubro de 2025 18h05

DAS PAIXÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor…

8 de outubro de 2025 8h55

DAS PROIBIÇÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Na ditadura militar que durou de 1964 a 1979 censurando a expressão do pensamento, cantou-se a…

30 de setembro de 2025 18h41

Augusto Frederico Schmidt

As chuvas da primavera Em breve virão as chuvas da Primavera, As chuvas da primavera Vão descer sobre os campos,…

25 de setembro de 2025 20h00

DE MURMÚRIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Só ouvi a palavra “Murmúrios” em letras de boleros e tangos. É visceral; o seu intimismo…

24 de setembro de 2025 12h03

Marina Colasanti

Outras palavras Para dizer certas coisas são precisas palavras outras novas palavras nunca ditas antes ou nunca antes postas lado…

21 de setembro de 2025 20h00