Categorias: Notas

PT e PMDB no microscópio – Lucia Hippolito comenta

Dois animais diferentes

Leão e leopardo são felinos, são carnívoros e vivem na África. No entanto, são animais diferentes, não apenas no aspecto físico, mas também nos hábitos.

O leão gosta de caçar de dia e em bando, prefere comer zebras e antílopes de grande porte. Já o leopardo caça de dia e de noite, é um solitário e prefere comer pequenos antílopes.

Assim também são PT e PMDB. Dois partidos políticos, ambos espalhados em todo o território nacional, ambos controlando o Senado e a Câmara, ambos participando do governo Lula.

Mas são animais muito diferentes em composição, distribuição do poder, estratégias políticas.

O PT é filho do casamento entre o movimento sindical e a Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base.

Os orgulhosos padrinhos foram o general Golbery do Couto e Silva, que assim conseguiu dividir a oposição brasileira, e os intelectuais, basicamente paulistas e cariocas, felizes por participar do nascimento de um partido puro, nascido na mais nobre das classes sociais, segundo eles: o proletariado.

O stalinismo está no DNA do PT. Por isso, o partido é fortemente centralista, adota uma estratégia nacional.
Sua Direção Nacional impõe a vontade sobre todos os diretórios regionais.

(Não foi nem uma nem duas vezes que assistimos ao ex-deputado José Dirceu passar com o trator sobre desejos, aspirações, propostas e reivindicações de seções regionais do PT.)

Hoje a estratégia do PT se resume a impor a candidatura da ministra Dilma aos diretórios regionais do partido. Tudo tem que ser sacrificado para que a candidatura de Dilma se consolide. Se não for ela, outro nome imposto por Lula.

Apenas centralismo democrático, dizem eles. Puro stalinismo.

Enquanto isso, o MDB nasceu como um frentão de resistência à ditadura. Abrigava desde os pragmáticos comunistas do Partidão até os pessedistas derrotados pelo golpe de 64, como Amaral Peixoto, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.

Herdeiro do velho PSD, o PMDB é um partido de base municipal. Sua Convenção Nacional é composta de delegados dos municípios. Daí vem sua força eleitoral e política.

O PMDB se curva ao poder da lógica da política estadual. Seus diretórios têm larga autonomia, podendo decidir o caminho mais conveniente a seguir dentro do estado.

Nesse sentido, o PMDB é um partido bastante democrático, porque a força de suas lideranças nasce do voto – e não do controle do aparelho partidário.

No PMDB, quem tem voto, tem voz. Goste-se ou não.

E é exatamente porque tem o maior número de vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, senadores e governadores que o PMDB impõe seu ritmo ao governo federal e ao Congresso.

Assim, pode-se entender que PT e PMDB são água e azeite – não se misturam. Aliam-se, mas não se misturam.

Para apoiar formalmente a candidatura Dilma, o PMDB precisa aprovar seu nome em Convenção Nacional.

Aí começa a encrenca.

Os diretórios estaduais vão armando seus palanques, fechando suas alianças… E impondo suas vontades à direção nacional, em movimento contrário ao do PT.

Por isso, para o PMDB apoiar a ministra, é preciso que o PT desista de ter candidatos ao governo de pelo menos dez estados.

Além disso, dos 19 senadores do PMDB, 16 vão tentar a reeleição em 2010. Estes dados também entram nas contas do partido.

O choque entre dinâmicas diferentes e estratégias também diferentes é que cria essa zona de atrito entre PT e PMDB.

O presidente Lula não poderá escapar de ser o árbitro dessa disputa. Só ele poderá decidir o quanto vai ceder ao PMDB e o quanto vai impor ao PT.

Marjorie Salu

Compartilhar
Publicado por
Marjorie Salu

Textos Recentes

FALANDO GREGO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) Clássico é clássico; não foi por acaso que Shakespeare criou expressões que…

13 de outubro de 2025 18h05

DAS PAIXÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor…

8 de outubro de 2025 8h55

DAS PROIBIÇÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Na ditadura militar que durou de 1964 a 1979 censurando a expressão do pensamento, cantou-se a…

30 de setembro de 2025 18h41

Augusto Frederico Schmidt

As chuvas da primavera Em breve virão as chuvas da Primavera, As chuvas da primavera Vão descer sobre os campos,…

25 de setembro de 2025 20h00

DE MURMÚRIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Só ouvi a palavra “Murmúrios” em letras de boleros e tangos. É visceral; o seu intimismo…

24 de setembro de 2025 12h03

Marina Colasanti

Outras palavras Para dizer certas coisas são precisas palavras outras novas palavras nunca ditas antes ou nunca antes postas lado…

21 de setembro de 2025 20h00