Categorias: Notas

Poesia

SONETO XVIII

Beija mais, beija-me e torna a beijar

Dá-me um daqueles teus com mais sabor

Dá-me um daqueles teus com mais amor

Quentes qual tição quatro te vou dar

Cansado estás? Desse mal te refaço

Dez outros te darei, com que doçura!

Misturando nossos beijos de ternura

Gozemos um do outro neste abraço

Vida a dobrar cada um de nós terá

Em si cada qual e seu amigo viverá

Permite Amor perder-me em esta cisma

Sinto-me mal, vivo para dentro

E não sei como tirar contentamento

Se fora não sair de mim mesma.

Louise Labé

O Poeta

Filha de Pierre Charly, um rico cordoeiro, e de Étiennette Roybet, Louise viveu toda a sua vida em Lyon, recebeu uma educação refinada para a época, consistindo de latim, italiano, música, equitação e até mesmo esgrima. Bonita e independente, aos dezesseis anos (1542) disfarçou-se de homem e sob a alcunha de “capitão Loyz” acompanhou um de seus amantes ao cerco de Perpignan e chegou mesmo a tomar parte de combates. Anos depois, novamente travestida, participou de um torneio de esgrima em Lyon.

Em 1550 resolveu casar-se e desposou Ennemond Perrin, cordoeiro e rico como fora seu pai, de onde veio o apelido de “Bela Cordoeira”. Em sua mansão, deu grandes recepções para a sociedade burguesa da época, e, com a morte do marido (por volta de 1560), voltou a ter inúmeras aventuras amorosas (embora, entre suas conquistas, seja conhecido apenas o nome do poeta Olivier de Magny).

A principal obra de Louise Labé é o Débat de Folie et d’Amour (”Debate da Loucura e do Amor”), de 1555, contendo 24 sonetos, e onde defende uma pauta “feminista”: direito das mulheres à educação, à liberdade de pensamento e a escolha de parceiros. Seguem-se a eles as três Élégies (”Elegias”), no mesmo ano. As obras, que exprimem uma “paixão sensual e ardente, foram inspiradas no modelo da época, Petrarca, mas além do grande rigor formal, destacam-se dentre as obras contemporâneas por seu ardor, sua espontaneidade e pela sinceridade com que são expressos os sentimentos. Embora perseguida e repreendida por vários reacionários, ela foi saudada por seus colegas poetas da época como uma nova Safo, fama notável para uma poetisa com tão poucos trabalhos publicados.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu
Temas: Louise Labé

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