Descrição do Recife de Pernambuco
Pera a parte do sul, onde a pequena
Ursa se vê de guardas rodeada,
Onde o céu luminoso, mais serena,
Tem sua influição, e temperada.
Into da nova Lusitânia ordena
A natureza mãe bem atentada,
Um porto tão quieto e tão seguro,
Que para as curvas naus serve de muro.
É este porto tal, por estar posta
Uma cinta de pedra inculta e viva,
Ao longo da soberba e larga costa,
Onde quebra Netuno a fúria esquiva.
Entre a praia e a pedra descomposta
O estanhado elemento se deriva
Com tanta mansidão, que uma fateixa
Basta ter à fatal Argos aneixa.
Em o meio desta obra alpestre e dura
Uma boca rompeu o mar inchado,
Que na língua dos bárbaros escura
Paranambuco – de todos é chamado:
De – Paraná – que é Mar, – Puca, rotura;
Feita com fúria desse mar salgado,
Que, sem no derivar cometer míngua,
Cova do mar se chama em nossa língua.
Para a entrada da barra, à parte esquerda,
Está uma lajem grande e espaçosa,
Quede piratas fora total perda,
Que uma torre tivera suntuosa.
Mas quem por seus serviços bons não herda,
Desgosta de fazer cousa lustrosa;
Que a condição do rei, que não é franco,
O vassalo – faz ser nas obras manco…
Sendo os deuses à lajem já chegados,
Estando o vento em calma, o mar quieto,
Depois de estarem todos sossegados,
Por mandado do rei, e por decreto.
Proteu no céu, c’os olhos enlevados,
Como que investiga alto secreto,
Com voz bem entoada, e bom meneio,
Ao profundo silêncio, larga o freio.
Bento Teixeira
O Poeta
BENTO TEIXEIRA , nasceu em 1565(?) no Porto, Portugal. Morreu em data incerta. Controversa, durante muito tempo, a sua naturalidade e a sua própria identidade (Bento Teixeira ou Bento Teixeira Pinto?), parece ser pacífica a questão de que toda a sua educação se processou no Brasil, para onde veio de tamanino, e onde viveu até morrer.
Considerado o mais antigo poeta brasileiro, a sua Prosopopeia ( poema épico em moldes camonianos, onde se cantam os feitos do governador Jorge de Albuquerque Coelho) surge como primeiro documento poético com uma referência local, brasileira, com especial relevo para uma descrição do Recife.
Obras: Prosopopeia, Lisboa, 1601; reedições de Ramirez Galvão, Rio de Janeiro, 1873, e de Afrânio Peixoto, idem, Academia Brasileira de Letras, 1923.
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