A INVENÇÃO DO “O”
Na Era da Pedra Lascada
da linguagem falada
antes de inventarem a letra
que imitava a lua cheia
as palavras significavam nada
e a Terra era parada
— pau, piche, laje, areia.
Nada se mexia
era uma pasmaria
e ninguém dizia a que vinha
nem dizia a que ia.
A frase ficava estática
de maneira majestática
e grandes falas presumíveis
permaneciam indizíveis
— eram imagens invisíveis
a distâncias invencíveis
apenas adivinhadas
e jamais articuladas.
Vivia-se em cavernas mentais
numa inércia dramática.
Transitar, nem pensar.
Ninguém mudava de lugar
que dirá de sintática.
Aí inventaram o “O”
e foi algo portentoso.
Assombroooso, maravilhoooso.
Tudo começou a rolar
e a se movimentar.
Palavras viraram pontes,
e o Homem ganhou “horizontes”
e viajou aos montes
montado na nova vogal.
E hoje existe a convicção
que sem a sua invenção
não haveria Civilização
ou qualquer noção de moral.
Um dia, como o raio inaugural
sobre o primeiro pantanal,
aquele que deu vida a tudo,
veio o acento agudo.
E então começou a História
e o Homem pôde, afinal
com todas as letras,
cantar vitória.
(Depois, é verdade
ficaram retóricos
e até um pouco gongóricos.
Mas isso, tenham dó,
não é culpa do “ó”.)
Luis Fernando Veríssimo
(O Estado de S. Paulo*, 29/9/96.)
O Poeta
Luis Fernando Verissimo nasceu em 26 de setembro de 1936 em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Filho do escritor Erico Verissimo e Mafalda Verissimo. De 1943 a 45, Erico morou com a família nos Estados Unidos, onde lecionou na Universidade de Berkeley, na Califórnia. Em 1954, a família viajou novamente para os Estados Unidos, onde Erico exerceu a função de Presidente do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, em Washington, durante 4 anos.
Foi nesta época que Luis Fernando iniciou seus estudos de música, aprendendo a tocar saxofone e tornando-se um admirador de jazz. Ao retornar ao Brasil, em 1956, começou a trabalhar na editora Globo de Porto Alegre, no setor de arte e planejamento. Em 1962 transferiu-se para o Rio de Janeiro onde exerceu as atividades de tradutor e redator de publicações comerciais.
Casou-se com a carioca Lúcia Helena Massa, sua colega de trabalho na redação do Boletim da Câmara de Comércio do Rio de Janeiro. Da união nasceram três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro. De volta a Porto Alegre em 1967, Luis Fernando começou a trabalhar como copydesk do jornal Zero Hora e como redator de publicidade.
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