Categorias: Poesias

Plínio Sanderson

Bequiana

há algo de podre na límpida lama.

a fama do beco bóia no Potengi.

primazia institucional pelo aparelho do Beco

atrapalha o trabalho

sacrofício.

se tudo flui

à cidade e arrabaldes

confluem às suas entranhas.

absorto em pedra, bares e botecos

tudo sedimenta no Beco.

cloaca do universo.

tinha um beco no meio do caminho…

não foi um rio…

foi um beco que ficou em minha vida.

levitante alma na lama

arte não reta, ereta!

intempéries da confusão in urbe.

suspiros poéticos e hospício ao céu que reluz

beco estorvo criador

imagem semelhança das suas criaturas.

tipos. figuras. espécimes. trastes. bichos. personas.

ratos humanos. escrotas corjas. santos dementes.

putas que pariram.

jogo de bicho, toda sorte e azar ao léu.

nicho nojento que dá na bocágua e álcool.

beco umbilical cordão do imaginário udigrudi.

ecos do tonheca no royal cinema

potiguarânia, magestic…

redutos zeros.

amálgama das nações canguleira & xária.

espaço sagrado, vomitado, sangrado.

chão de profundezas infinitas.

não reproduzir provençais

picuinhas políticas tradicionais.

vide seculares oligarquias barrocas

NATALVESMAIA.

chega de tentar dissimular:

discursos modernosos,

lábias & lorotalheias.

ao cerne the question:

práxis!

como diluir lama na fama?

suscitar o beco como saída

contra o tódio desmemoriado?

como inserir, edificar

mítica viela em espaço concreto?

onde assentar os sem-beco?

espacializar & territorializar o beco!

a labuta é fazer tradição.

exercitar história.

render-se à memória.

excitar libido

feito portas de igreja e pernas de prostitutas

sempre prontas a deixar-se passar…

beco vício vil, falaocioso.

o beco não cabe em si

funda-se em santíssimos saberes:

vicissitudes nos coitos cotidianos.

culto à mística do beco é buraco neglo.

da clara lama ao caos da fama

sambas & rachas & bambas

alilás, ofensiva lilás é interseção

entre o rego e o brilho

do gênero ao sui-generis.

na calçada de fama

altos saltos egolátricos.

urge altruísmo!

transformar em tradição é argumento pragmático.

venha a nós todos os quadros

do beco e do bequismo

todas siglas numa suculenta sopinha de letras

todas matizes pereirálticas,

para lavar, pixar, pintar o beco.

Põe Pôla na sua vida e caótico fuxico se instaura.

escarrar no beco enquanto esperamos gardênia.

maledicências febris…

na contramão da abstração “das kapital”

mais-valia boemia, delírios in tremens.

ébria produção vitae.

cada gole como se fosse o último voto.

fosso átimo fossa.

milacrias

beco na veia

no veio ávido

saída onírica

SAMBA em todos os TAOS.

Biografia de Plínio Sanderson aqui.

Marjorie Salu

Compartilhar
Publicado por
Marjorie Salu

Textos Recentes

FALANDO GREGO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br) Clássico é clássico; não foi por acaso que Shakespeare criou expressões que…

13 de outubro de 2025 18h05

DAS PAIXÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor…

8 de outubro de 2025 8h55

DAS PROIBIÇÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Na ditadura militar que durou de 1964 a 1979 censurando a expressão do pensamento, cantou-se a…

30 de setembro de 2025 18h41

Augusto Frederico Schmidt

As chuvas da primavera Em breve virão as chuvas da Primavera, As chuvas da primavera Vão descer sobre os campos,…

25 de setembro de 2025 20h00

DE MURMÚRIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br) Só ouvi a palavra “Murmúrios” em letras de boleros e tangos. É visceral; o seu intimismo…

24 de setembro de 2025 12h03

Marina Colasanti

Outras palavras Para dizer certas coisas são precisas palavras outras novas palavras nunca ditas antes ou nunca antes postas lado…

21 de setembro de 2025 20h00