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Banco do Brasil – Miriam Leitão comenta

Interferência do governo no BB pode não reduzir spread

A intervenção do governo no Banco do Brasil interrompe a blindagem que estava sendo feita nos últimos anos na instituição. Além disso, a intenção de reduzir o spread bancário via BB pode não surtir efeito no mercado. As opiniões são do analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu. Em conversa com o blog, ele disse que a troca do comando no banco e a interferência direta no mercado pelo governo surpreenderam.

– Surpreende o uso do banco como instrumento de política financeira. A gente sabe que o governo usa a Petrobras, mas no BB a gente não via uma intervenção como essa. Ocorria um direcionamento de crédito para alguns setores, mas na política de juros e de spread foi a primeira vez na história recente. O Banco do Brasil vinha se blindando nos últimos anos.

Para Santacreu, baixar o spread bancário era algo que estava fora das mãos do presidente Lula. O presidente dizia que iria reduzir, mas as taxas dos bancos públicos eram elevadas e deixavam Lula em contradição, na visão do analista da Austin.

– Parece que não houve acerto com os grandes bancos. Essas instituições não vão querer sair por aí dando crédito e recebendo juros baixos no futuro ou não recebendo, por causa da inadimplência. Com a medida, o Lula fica bem na foto, joga a responsabilidade para o setor. Depois, até sua candidata deve dizer que tentou baixar o spread, via Banco do Brasil. O discurso do governo fica coerente.

O blog perguntou, então, o que poderia ser feito para a redução do spread, já que diversas medidas foram tomadas, como a redução do compulsório e a lei de falências. Santacreu disse que outras medidas deveriam ser tomadas também, como o cadastro positivo e a aprovação da reforma tributária. Só que isto deveria ter acontecido antes da crise.

– No momento em que a economia vinha crescendo, com inadimplência cadente, não foi feito nada de concreto, não teve votação da reforma tributária. Agora, com a crise, o Banco Central tomou medidas, mas a taxa de risco subiu. Além disso, com a arrecadação do governo caindo, com a inadimplência subindo e com volume de crédito menor, nem o governo e nem os bancos querem perder. Então, não se vota a reforma tributária, porque ela mexe em vários tributos, e os bancos não reduzem o spread porque não querem perder seus resultados – disse ele.

Então, a tentativa do governo de reduzir o spread via Banco do Brasil pode não dar resultado? Esta foi a pergunta do blog.

– Tem de esperar um tempo. Mas uma andorinha só não faz verão. É audacioso pensar que um banco só vai ser capaz de reduzir os juros. Pode haver redução em algumas modalidades com muitos concorrentes, como no crédito para veículos. No empréstimo pessoal e no “hot money” das empresas, por exemplo, o spread é alto, mas isso é para quem está com a faca no pescoço e não deve reduzir tanto. A medida cria uma concorrência que não sei se dará resultado. O governo está pensando que todos bancos vão acompanhar? Que todos os clientes vão para o Banco do Brasil? – questionou Santacreu.

Marjorie Salu

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