TRAPAÇAS

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MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“A trapaça, a má fé e a duplicidade são, infelizmente, o caráter predominante da maioria dos homens que governam as nações” (Frederico II)

O nosso epigrafado, o rei Frederico II, da Prússia, foi protetor e amigo de Voltaire, de quem recebeu grande influência filosófica e política. Tornou-se o que a História registra um “Déspota Esclarecido”.

Esta qualificação foi dada aos soberanos europeus que adotaram e puseram em prática as ideias dos filósofos iluministas. Frederico II, no seu reinado aboliu os castigos físicos, a Educação Básica foi obrigatória e garantiu a liberdade religiosa para todos os cultos. Elevou a Prússia ao nível das grandes potências da época graças ao seu talento militar e administrativo.

Como intelectual (autor das “Obras do Filósofo de Sans Souci”, referência à Voltaire), Frederico II referia-se às trapaças dos governantes que não passavam os seus ministros por um filtro, limpando-os antes de nomeá-los das impurezas para garantir neles apenas a ética, a competência e a honestidade.

O verbete “Trapaça” dicionarizado, é um substantivo feminino com etimologia derivada do latim vulgar, “trappa”, que significa armadilha. Refere-se a qualquer manobra astuciosa, ação realizada com má-fé, tudo o que envolve logro e fraude. É conjugado pelos verbos “trapaçar” e “trapacear”, sendo este último mais usado coloquialmente.

Chegando ao cinema, tivemos o filme American Hustle, traduzido no Brasil como “Trapaça” dirigido por David O. Russell. O roteiro envolve o uso de dois vigaristas, por um agente do FBI numa operação promovida por políticos desonestos.

Além de ser rotineira nos discursos e no desempenho de muitos políticos, a trapaça trouxe notoriedade e fama a trapaceiros que entraram para a História.

Faz tempo que ouvi um caso que se passou em Paris no século passado, quando um jovem deixou nas mãos de um comerciante um violino, penhorado por ínfima quantia.  Ao sair, encosta na calçada da loja um carro, saltando dele um senhor bem vestido que entra na loja procurando certa mercadoria; daí, vê o violino e diz ao atendente: – “Vende o violino? ”, e oferece uma quantia vultosa pelo instrumento. O comerciante surpreso, diz que o violino não lhe pertence. –“Que pena”, lamenta o freguês: – “sou colecionador de “Stradivárius”, e este é um dos poucos que ainda existem; dê um jeito que volto mais tarde”….

De regresso com o dinheiro na mão para pagar o penhor e receber de volta o seu violino, o jovem estudante de música (foi assim que se apresentou) recebeu a oferta de alguns milhares de francos pela compra do instrumento do ganancioso lojista (com o pensamento voltado no milhão do Colecionador). O estudante vacila, regateia, e termina embolsando o dinheiro; e o elegante “Colecionador” (seu sócio) nunca mais voltou à loja…

Este golpe do Stradivárius, provoca simpatia dos que adotam o provérbio popular do “ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão…”. Há entretanto trampolinices que revoltam, como a de certo bispo evangélico que patenteou a “marca” Jesus Cristo, e processou um adepto por usá-la sem pagar… Outro presbítero anunciou feijões curativos contra o novo coronavírus, disputando com a cloroquina do Bolsonaro…

Não é de agora que os trapaceiros atuam fingindo-se religiosos; na velha Bizâncio a Igreja punia com rigor quem não pagava o dízimo, mas seus prelados politiqueiros deixavam os muros da cidade sem defesa, confinados num convento discutindo o sexo dos anjos…

O ludibrio, da religião para a política, não tem limite. O trapaceiro Donald Trump passou ao seu incauto admirador Bolsonaro a ideia de que a cloroquina curava a covid-19, sendo seguido entusiasticamente…. E fez pior, trapaceando mais uma vez, pressionou o governo brasileiro para rejeitar a vacina russa Sputnik V, e foi obedecido colonialmente…

Agora tivemos a trapaça monumental da Familiocracia Bolsonaro em torno do Ministério da Saúde; já haviam escolhido o médico paraibano Marcelo Queiroga para o lugar do ministro-general Pazuello, mas armaram uma farsa com o presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira, que indicou a cardiologista Ludhmila Hajjar para o lugar.

Convidada para uma reunião com Bolsonaro a conceituada médica viajou a Brasília, mas durante o encontro foram acionados os bonzos bolsonaristas nas redes sociais e os milicianos extremistas das ruas para ataca-la vilmente, até com ameaças de morte.

É assim que age a “ala ideológica” do Governo Bolsonaro. E salve-se quem puder!

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