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Lei e ordem, dia e noite

Nova York sem Law & Order(Lei & Ordem), o seriado de vinte anos na TV, vai gerar desemprego e decepção, mas os seus 456 episódios vão continuar por anos, talvez décadas, dia e noite, em repetecos.


O nome original da série criada pelo produtor Dick Wolf seriaNight and Day. Mudaram na última hora, mas ele não imaginava que o programa igualaria o recorde de Gunsmoke, a mais longa série da televisão americana. Nem que seus episódios, em reprise, poderiam ser vistos todos os dias, e noites, por mais cinco, dez ou quinze anos. Já podem ser vistos pelo menos três vezes por dia, em vários canais.

Os direitos da série foram comprados há dez anos pela TNT, uma rede por assinatura, pelo preço até então recordista de US$ 150 milhões.

Nem Wolf nem a rede NBC imaginavam que haveria uma versão francesa, outra russa e, agora, uma inglesa. Ou que a “nave-mãe”, como são conhecidas as séries que geram filhotes, daria seis descendentes.

Law & Order faz parte do dia e da noite do novaiorquino porque é filmada nas ruas, prédios e estúdios da cidade. No meu caso chegou até mais perto. Uma das cenas da série foi filmada na sala do meu apartamento.

Dois dias antes da filmagem uma equipe fotografou toda a sala. Na véspera veio o caminhão com a própria mobília e decoração. Depois da filmagem, de manhã, em poucas horas tudo ficou exatamente como antes, mais um cheque de US$ 3 mil. Pena que não repetem cenários.

A série criou uma fórmula que nunca dependeu de um ator, famoso ou sem fama. Uma voz introduz cada episódio de uma hora:

“No sistema de justiça criminal o povo é representado por dois grupos separados mas igualmente importantes: a polícia que investiga os crimes e os promotores que acusam os suspeito. Estas são suas histórias.”

Na primeira meia hora, você vê a polícia em ação, na segunda, a promotoria.

Na maioria dos seriados policiais anteriores, os heróis eram os advogados de defesa.

Na Lei & Ordem, os heróis são os promotores mas nem sempre ganham os casos. Era um dos programas favoritos do Paulo Francis e ele preferia ver a policia perder.

Um dos políticos favoritos dele era Fred Thompson, republicano, conservador do Tennessee que acabava de lançar sua autobiografia,Teaching Pigs to Dance. Participou da investigação de Watergate e costurava bem as carreiras de ator e político.

Francis já estava morto quando, em 2002, ainda senador, no final do mandato, Thompson entrou para o elenco de Law & Order como chefe durão dos promotores. Ele poderia ter sido facilmente reeleito, mas achava que o Senado não era carreira vitalícia. Em 2008, tentou ser candidato à Presidência pelo partido republicano e aparecia em terceiro lugar nas pesquisas, mas não tinha o dinheiro que os adversários tinham.

O ex-prefeitos Giuliani e Dinkins, o atual, Mike Bloomberg, dezenas de políticos e celebridades passaram pela série, encarnados como políticos ou como atores.

Um outro truque de Wolf foi escrever episódios baseados em fatos reais. A primeira página do tabloide New York Post era uma das principais fontes das tramas que abordavam todos tipos de crimes, dos homicídios perversos aos financeiros. Dava ao programa um senso de atualidade.

O último episódio, “Rubber Room”, que vai ao ar esta semana, tem mais conteúdo social do que sangrento. A “Sala da Borracha” é onde ficam professores afastados das escolas, denunciados por incompetência ou abusos.

À espera de um julgamento passavam meses, às vezes anos, nestas salas, sete horas por dia sem fazer nada, recebendo salário integral. O prefeito Bloomberg lutou vários anos contra o sindicato dos professores para acabar com a mamata que custava US$ 30 milhões por ano aos contribuintes.

Gracas a incentivos fiscais, desde Law & Order Nova York conseguiu atrair centenas de filmes e seriados para filmar na cidade. Mas desde a crise produções como Law & Order, com a queda na audiência, não conseguem pagar as novas taxas criadas para filmar em prédios públicos nem os preços exorbitantes dos sindicatos.

Nova York oferece cenários extraordinários, mas a lei da maior audiência por menores custos vai levar Law & Order e outros programas para novas paisagens.

Ficamos com os repetecos, dia e noite.

Lucas Mendes, jornalista (BBC Brasil)

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